🏺Tavira, o legado islâmico (713-1242).

📜Situada no sul de Portugal, no Sotavento Algarvio, Tavira foi a primeira povoação do Algarve a ser elevada a Cidade, a 16 de março de 1520, em carta outorgada por D.Manuel I (1495-1521). Durante o dominio islâmico (713-1242), a vila algarvia foi um próspero e independente Reino Taifa do Al-Andalus (Séc.XII): uma comunidade marítima de piratas. Foi o porto de mar que deu a fortuna e nobreza a Tavira. Era a cidade mais populosa do Algarve nos séculos XV/XVI e detinha um importante porto fluvial para apoio às armadas reais e da defesa das praças conquistadas no Norte de África (Marrocos) pelos portugueses. Tavira é um ponto obrigatório para incluir num roteiro histórico-cultural pela região algarvia. A Cristandade e o Islão foram essenciais na formação e na identidade tavirense e algarvia.

Em árabe, Tabîra quer dizer “a escondida”. Esta cidade do Sotavento Algarvio possui muitas curiosidades e é um regalo para os nossos olhos. E porquê? Vejamos, Tavira possui a beleza do seu rio Gilão, das suas salinas, da ria formosa, as suas antigas muralhas donde podemos avistar a arquitetura urbana e religiosa e os museus que contam o seu dinamismo comercial e estratégico ao longos dos tempos. A partir do Século XII, esta localidade algarvia tornou-se um dos principais centros marítimos e comerciais da costa algarvia. Havia dois factores: um porto defensável e a posição estratégica da estrada que ligava, através da ponte do rio Gilão, Sevilha a Silves. Juntamente com Xilb (Silves) e Ossónoba (Faro), a Tabîra islâmica era uma das mais importantes cidades do Gharb Al-Andalus. Ao percorrer o centro histórico da cidade, podemos comprovar esta importância pela dimensão do seu Castelo e, mais tarde, com as inúmeras Igrejas em diversos estilos arquitectónicos são como uma viagem pela História de Arte em Portugal.

Ponte Velha, datada do séc.XVII, sobre o rio Gilão, e os célebres “telhados de tesoura” de Tavira

Tavira islâmica: um resumo histórico…

Aquando da chegada dos seguidores de Maomé, ao Al Garb al Andaluz, em 712, Tavira estaria deserta ou, na melhor das hipóteses, perdera o fulgor económico e mercantil de outras épocas, particularmente, na época os fenícios. Durante os séculos de domínio árabe, a fortaleza de Cacela, por exemplo, detinha um estatuto de maior importância militar por, ser aí a barra do Rio Gilão. Assim, Tavira seria uma urbe muçuçulmana tardia na história da presença da civilização islâmica da Península Ibérica (711-1492), a comprovar pela falta de elementos materiais anteriores ao século XI. Os muçulmanos conferem à urbe um novo ânimo social, económico, comerical e militar nos séc.XI-XII, chegando esta a ser capital de um Reino Taifa e, durante período almóada, capital de um distrito. Em finais do séc. X/inícios do XI, o castelo é construido no topo da colina de Santa Maria. Entre 1151 e 1167, sob o comando de Amil b. Munib, resistiu com êxito a dois cercos do califa almóada Abu Muhammad ‘Abd al-Mu’mim al-Qa’im. As gentes de tavira eram conhecidas pelas sua forte resistência a poderes centralizadores e movimentos expansionistas do Magrebe, tais como, os almorávidas e os almóadas. Com o avanço da reconquista cristã, a urbe islâmica vai aumentar siginificativamente a dimensão do recinto muralhado com a fixação de população vindos do norte da Peninsula Ibérica em busca de refúgio para áreas com fronteiras mais estáveis a sul e longe da fronteira beligerante entre as hostes cristãos e mouriscas. Os almorávidas dotam Tavira de uma primeira muralha, nos finais do século XI, e mais tarde, os Almóadas fazem uma reforma profunda durante a segunda metade do séc.XII, passando esta a integrar a rede de castelos defensivos do Algarve. Ainda hoje, existem inúmeros vestígios de restos de muralhas construidas em taipa e na alcáçova, conserva-se um exemplar de uma torre albarrã hexagonal.

Torre do Relógio da Igreja de Santa Maria do Castelo – Tavira

A Igreja de Santa Maria do Castelo foi construída após a conquista de Tavira pela Ordem de Santiago (1242) na segunda metade do século XIII e XIV, em estilo gótico, no local onde anteriormente se situara a mesquita maior de Tavira- Estava localizada, no coração da urbe islâmica, dentro do perímetro muralhado e nas proximidades da antiga alcáçova. Mais do que falar sobre as raízes da História da cidade de Tavira, o Núcleo Museológico Islâmico desta cidade é um convite à descoberta do legado material e imaterial da época islâmica. Este núcleo do Museu Municipal de Tavira foi inaugurado em 2012 precisamente no local onde foi achado o famoso “Vaso de Tavira” (1996). Tem na sua exposição permanente – Tavira Islâmica – uma abordagem histórica sobre  a cidade no período islâmico até à reconquista cristã. Resultou, assim, das intervenções arqueológicas efectuadas em vários locais do centro histórico da cidade como, por exemplo, a identificação de um bairro almóada, datado dos finais do século XII/inícios do século XIII, durante as obras de requalificação e adaptação do antigo convento de Nossa Senhora da Graça a Pousada da Enatur (Empresa Nacional de Turismo).

 Núcleo Museológico Islâmico – as origens e o auge da Dinastia Omíada (713-1031) – Museu Municipal de Tavira

Encontro-me com a Dr.ª Sandra Cavaco, a arqueóloga do Município de Tavira, que será a minha guia nesta viagem pela máquina do tempo. A sua linguagem é simples e direta, indo ao encontro dos meus interesses. Fala-me do passado milenar desta cidade, habitada por civlizações antigas, em virtude da sua posição estratégica (oceano atlântico) e comercial (porto de pesca e salinas). Na época islâmica, a cidade de Tabîra era uma “República” de Piratas que atacavam o comércio maritimo muçulmano ou cristão, dando guarida a gentes de má fama. Por esta razão, o poder centralizado e unificado islâmico – os Almorávidas e Almóadas – por sucessivas ocasiões intentou submeter esta cidade de piratas à sua lei. Os Tavirenses só submeteram-se as hostes cristãs no final da primeira metade do séc.XIII à Ordem Militar de Santiago. De acordo com a Crónica da Conquista do Algarve, Tavira foi conquistada aos mouros, em 1242, pelas hostes cristãs de D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago, como represália pela morte de sete dos seus cavaleiros hospitalários – D. Pedro Pires (Peres ou Rodrigues, comendador da Ordem de Santiago de Castela), Mem do Vale, Durão (ou Damião) Vaz, Álvoro (Álvaro) Garcia (ou Garcia Estevam), Estêvão (Estevam) Vaz (Vasques), Beltrão de Caia e mais um mercador judeu de nome Garcia Roiz (ou Rodrigues) – que caçavam nas imediações da cidade islâmica durante um período de tréguas entre as forças cristãs e a guarnição islâmica. O acordo de paz foi quebrado quando os cavaleiros se aproximaram de Tavira. No interior da Igreja de Santa Maria do Castelo, concretamente nas paredes laterais da capela-mor, estão sepultados estes guerreiros e mártires cristãos que morreram na reconquista cristã de Tavira. Aqui, denotamos a importância crucial da Ordem Militar de Santiago na promoção da reconquista cristã do Alentejo e do Algarve, bem como na afirmação e estabelecimento de Portugal como nação independente.

Vaso islâmico decorado com figuras e animais, datado do séc.XI

Vaso de Tavira é um dos mais expressivos testemunhos da vida na região do Al Andaluz durante o século XI.. É o ex-libris deste espaço museológico e da sua exposição permanente. Trata-se do mais famoso vestígio islâmico da cidade. Segundo os académicos, o vaso cerâmicom de cariz popular, parece representar um rapto nupcial. Apresenta no bordo onze figuras e nas paredes, linhas, retículas, peixes e outros elementos pintados a branco. Destaca-se a noiva com a face descoberta e o noivo com um turbante, ambos a cavalo; um besteiro e um cavaleiro; um tocador de tambor e de adufe; uma tartaruga e várias pombas; e o dote, constituído por um bovídeo, um caprídeo, um camelo e um ovino. Importa também destacar, a torre em Taipa Militar, os restos da muralha islâmica do século XII e o capitel em mármore branco datado da época califal omíada, originária das oficinas da Madinat al-Zahra em Córdoba. Os Muçulmanos foram expulsos, em conjunto com a comunidade judaíca, no final do séc. XV. Ainda hoje, as marcas islâmicas são, ainda, visíveis no centro histórico. Veja-se o topo da antiga colina de Santa Maria – os restos da antiga muralha e castelo islâmico e a mesquita maior – as icónicas portas de reixa, de finos entrelaçados de madeira, evocadoras da herança árabe presente na cultura algarvia.

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📝Nota Informativa:

No âmbito da iniciativa «Redescobrir os Segredos do Algarve | Rota Omíada», promovida pelo Turismo do Algarve com o apoio da Direção Regional de Cultura e do Município de Vila do Bispo, o Blogue OLIRAF relizou um roteiro histórico-cultural pelos 11 municípios, onde se inclui o concelho de Tavira, e 14 localidades que integran a Rota Omíada do Algarve durante o mês de Dezembro de 2016.

🚏 Como chegar

A partir de Lisboa optei por reservar uma viagem em Alfa pendular, através da Comboios de Portugal. Faro era a minha base para efectuar a Rota Omíada do Algarve. Para tal, optei por alugar uma viatura rent-a-car para fazer a ligação entre os diversos pontos histórico-culturais desta rota. Na maioria dos casos, utilizei a via do Infante (A22) e a Nacional 125. No caso da ida para Alcoutim, optei pela A22 até Castro Marim e depois o IC27 (Beja) até Alcoutim (N122-1).

🔗Para mais informações:

Consulte o nosso artigo sobre a Rota Omíada do Algarve (Blogue OLIRAF) para preparar um roteiro histórico-cultural durante as suas férias algarvias, com base no legado omíada no Algarve, onde disponibilizamos inúmeras sugestões, dicas e experiências temáticas de descoberta e exploração da diversidade territorial desta região portuguesa. As experiências disponibilizadas desafiam os turistas a explorar o território e a aumentar o seu tempo de estada na região, com flexibilidade para parar, contemplar e experimentar o muito que há para conhecer, desde os vestígios de castelos e muralhas urbana, testemunhos arqueológicos, espaços museológicos e a diversidade da gastronomia local. Para mais informações sobre a Rota Omíada e a cidade de Tavira, clique nos seguintes links:

Região de Turismo do Algarve – Rota Omíada

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Projeto Umayyad Route (Site) | Roteiro Omíada Algarve (PDF)

Museu Municipal de Tavira

Centros históricos de influência islâmica : Tavira, Faro, Loulé, Silves. [ed.] Instituto de Cultura Íbero-Atlântica; coord. Valdemar Coutinho. Portimão : I.C.I.-A., 2001. 55, [3] p. : il. ; 23 cm + 4 f. desdobr. em bolsa resguard.

DOMINGUES, José D. Garcia – O Gharb al-Andalus. Silves : Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2011-. v. : il. ; 21 cm

CORREIA, Fernando M. R. Branco. Fortificações urbanas da época islâmica no Algarve, Património islâmico dos centros urbanos do Algarve: contributos para o futuro, 2002, pp.81-90

FERNANDES, Carla Varela.- A Igreja de Santa Maria do Castelo de Tavira. Lisboa: Colibri e Câmara Municipal de Tavira, 2000. 160 pp.: il.; 260 mm

MAIA, Maria Adelaide Garcia Pereira Andrade, MAIA, Manuel Maria da Fonseca Andrade. As muralhas medievais e post-medievais de Tavira, Património islâmico dos centros urbanos do Algarve:contributos para o futuro, 2002, pp.66-80

TAVIRA. Museu Municipal. Núcleo Islâmico – Tavira islâmica. Coord. Maria Maia… [et al.]; textos Ahmed Tahiri… [et al.]; fot. António Cunha, Ana Vieira, Susana Gonçalves. Tavira : M.M. : Câmara Municipal, 2012. 125 p. a 2 colns. : il. ; 29 cm. Contém bibliografia. ISBN 978-972-8705-45-9

TORRES, Cláudio – O vaso de Tavira : uma proposta de interpretação. Fot. António Cunha. Mértola : Campo Arqueológico de Mértola, 2004. 25, [1] p. : il. ; 22 cm. Contém bibliografia. ISBN 972-9375-22-4

VAZ, Adérito Fernandes – Uma visão de Tavira islâmica. [S.l.] : Jornal do Sotavento, 2001 (Tavira : Tip. Tavirense). 264 p. : il. ; 21 cm. Bibliografia, p. 261. ISBN 972-95621-1-3


Nota importante [🔍]

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. As recomendações de produtos turísticos baseiam-se nas experiências [reais] de viagem e o conteúdo editorial é independente de terceiros. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

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🖋 Texto: Rafael Oliveira   📷 Fotografia: Oliraf Fotografia 

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📌 À descoberta de Silves: um olhar fotográfico da “Alhambra Portuguesa”…

Silves ou a Xilb de Al-Mu’tamid. Outrora a mais importante cidade do Algarve, tanto na época islâmica (aqui era a capital do Al-Gharb) e, depois da conquista cristã, do Reino do Algarve. Mais tarde, Silves iria perder importância para Faro. Não é por mero acaso que estamos no maior e no mais peculiar castelo do Algarve (desde a época muçulmana), edificado com a pedra da região envolvente: o grés vermelho. Atrevo-me a chamar-lhe a “Alhambra Portuguesa”,mas em formato miniatura. Trata-se da jóia da arquitectura militar da época islâmica em Portugal.  Já tinha cá estado em 2008 durante a minha viagem de ferry-boat entre a Ilha da Madeira (Funchal) e Portugal Continental (Portimão). Sim, quando havia ligação marítima entre o Arquipélago da Madeira e Portugal Continental. Não vamos falar de politica, certo? Nessa época,  não tinha a ideia de criar um blogue pessoal,mas tinha o gosto de fotografar os belos exemplares do nosso património histórico-militar: os Castelos. Quem diria que iria voltar aqui, desta vez, oito anos numa blogger trip. A vida dá muitas voltas e, em muitos casos, 180º.

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Atravessamos a antiga ponte medieval do rio Arade e dirigimos-nos para o centro histórico desta cidade algarvia, onde iríamos ter uma visita-guiada ao Museu Municipal de Arqueologia de Silves. É o resultado das escavações arqueológicas desenvolvidas ao longo do séc.XX. No centro do espaço, podemos visualizar um Poço-Cisterna da época Almóada (séculos XII-XIII), descoberto após escavações arqueológicas decorridas nos anos 80 do séc. XX . Esta hoje classificado como Monumento Nacional. É apartir dela – o ex-libris do discurso expositivo – que fazemos o percurso  desta visita guiada com a Dr.ª Dr.ª Maria José Gonçalves, actualmente arqueóloga do Município de Silves. Trata-se de uma académica especializada em cidades medievais islâmicas, nos campos da arqueologia e da história. E isso denota-se no seu discurso. Levei, literalmente, uma lição de História e de Arqueologia.

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Prato de Mesa  da Época Omíada (séculos VIII-IX)

Apresenta-me, passo-a-passo, o acervo do Museu, na sua maioria proveniente das escavações arqueológicas efectuadas na cidade e concelho. O acervo reúne um conjunto de objetos desde o Paleolítico até ao período Medieval. Constato que há imensos achados arqueológicos em quantidade, mas que valem pela sua qualidade e excepção de ornamentos e pictóricos. E como Silves era a principal cidade do Gharb Al-Andalus, este museu tem no seu acervo um grande destaque para o Período Islâmico – Omíada, Califal, Taifa, Almorávida e Almóada, desde o século VIII ao século XIII, ou seja, ao período cronológico da ocupação árabe ao que hoje corresponde ao território algarvio. O visitante que percorrer este espaço museológico irá compreender a importância da cidade de Silves no período islâmico. Silves é legado mais vivo e duradouro do património islâmico em Portugal. Dai, ter-me demorado mais por esta cidade emblemática.

Depois da visita ao espaço museológico, inserido na antiga medina de Silves, fomos visitar o antigo alcácer islâmico: o actual Castelo Silves. A sua pedra avermelhada – grés de Silves – dá outra cor e magnificência a este antigo complexo bélico. Digo actual, visto que, nas décadas de 30 e 40 do Século XX, a Direção de Monumentos Nacionais uniformizou a traça dos Castelos Medievais Portugueses, muitos deles em estado de ruína, à imagem do Castelo de Guimarães. Como Portugal fez-se da conquista de território aos Mouriscos, não interessava para o Estado Novo – regime ditatorial – manter esse legado, mas sim o papel fundador de Guimarães na construção  e formação da identidade Portuguesa. O que diria  Al-Mu’tamid se visse a sua amada Xilb nos dias hoje? Apesar de tudo, dedicaria-lhe um poema…do seu declínio.

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Os Muçulmanos aproveitaram muitas técnicas de construção romanas para a construção das suas muralhas defensivas, por exemplo, sob a forma de silharia de tipologia romana redisposta num padrão regular, a soga e tição. Actualmente, este é um dos poucos exemplares existentes nas muralhas de Silves que, ao longo dos séculos, foi sofrendo inúmeras alterações efectuadas pelo Homem e pelo tempo.

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Durante a descoberta da Rota Omíada, Abderramán I, Al-Mutamid, Al-Idrisi e,Ibn Darraj al-Qastalli, foram excelentes companheiros de viagem…interior. Shukran. Mais do que uma viagem pela história, foi uma “panóplia” de experiências pessoais e colectivas que podem ser partilhadas digitalmente,mas que devem ser vividas na primeira pessoa. É isso que convido o leitor do blogue OLIRAF a fazer: viver estas experiências. Não haverá melhor sensação do que sair da nossa “zona de conforto”?  👌

Como chegar

A partir de Lisboa optei por reservar uma viagem em Alfa pendular, através da Comboios de Portugal. Faro era a minha base para efectuar a Rota Omíada do Algarve. Para tal, optei por alugar uma viatura rent-a-car para fazer a ligação entre os diversos pontos histórico-culturais desta rota. Na maioria dos casos, utilizei a via do Infante (A22) e a Nacional 125. No caso da ida para Alcoutim, optei pela A22 até Castro Marim e depois o IC27 (Beja) até Alcoutim (N122-1).

Onde ficar

Restaurante Ria Formosa

Praça D. Francisco Gomes, Nº2 8000-168 Faro Portugal
+351 289 830 830

✉️ Email: reservas@hotelfaro.pt

Para mais informações:

Região de Turismo do Algarve

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Blog Turismo do Algarve

Projecto Umayyad Route 

Turismo do Algarve – Rota Omíada do Algarve (Folheto + App)

Nota importante

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

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Texto: Rafael Oliveira  | Fotografia: Oliraf Fotografia

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Fotografia•Viagens•Portugal © OLIRAF (2016)

Contact: oliraf89@gmail.com

📌 À descoberta de Alcoutim e Salúncar do Guadiana: duas irmãs “gémeas” separadas por um rio…

📌 São experiências amenas, algumas ainda por revelar. Fomos em busca da Rota Omíada do Algarve – inserida no projecto Umayyad Route – e descobrimos o legado material e imaterial desta Dinastia Árabe em Portugal, mas também as vistas sobre o oceano, a natureza, a gastronomia, os museus e experiências de aventura para viver na extremidade sul de Portugal e da Europa. Quem disse que o Algarve é quente só no Verão?

rotaomiadaalgarve

👤 Um pouco de História…

Os Omíadas foram uma Dinastia Islâmica a implementar o sistema hereditário do califado, após a morte do profeta Maomé. Eram oriundos da mesmo clã do profeta, a tribo dos Coraixitas, oriunda da cidade de Medina na Península Arábica. Daqui, transferiram a seu do seu poder para Damasco, na actual Síria. O califado Omíada de Damasco (661-750) expande a sua influência religiosa, cultural e militar para o Norte de África (Magrebe) e para a Península Ibérica (Al-Andalus), conquistada na primeira metade século VIII, sendo administrados pelo Emir de Cairuão (Tunisía), sob dependência directa do poder califal da Damasco. Em 750, os Abássidas assassinam a Dinastia Omíada, à excepção do Abderramão I que foge para a capital do Al-Andalus. Este, em 756,  funda o Emirato Omíada de Córdova (756-929), independente do poder califal abássida de Bagdad. O apogeu do poder omíada no Al-Andalus dá-se entre 929 e 1031, com a fundação do Califado Omíada de Córdova, em 929, por Abderramão III (891-961).

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Vista parcial do Castelo de Alcoutim

Alcoutim. Terra de Fronteira. O Algarve Natural. São os slogan(s) do Município de Alcoutim para promover esta singela vila nas margens do Guadiana. Tal como José Saramago, o nosso Nobel da Literatura (1998), esteve nestas paragens, em 1980, no âmbito da sua Viagem a Portugal. Deixo-me surpreender pela singularidade do casario branco de Salúncar do Guadiana e do seu “Guerreiro de Pedra” – o Castillo de San Marcos – que domina a paisagem em redor. Esta pequena urbe nasceu da necessidade do controlo e vigilância do transporte de bens alimentares (trigo, azeite e mel) e de minério (ouro,prata e cobre), através do rio Guadiana, pelas  ocupações humanas sucessivas que a usavam na transição entre as rotas comerciais do Mediterrâneo e do Atlântico.

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Vista parcial da vila de Salúncar do Guadiana (Huelva,Andaluzia)

Depois de fotografar as vistas (e que vistas), dirigi-me para a experiência do slide fronteiriço agendada para a parte de manhã, com a limitezero do inglês David Jarman, radicado à treze anos nesta zona da raia luso-espanhola. Contacto com o responsável da empresa de animação turística Fun River, o Dr.José Cavaco, que me informa que o seu funcionário estava em Espanha e que me iria buscar dentro de momentos. A única ligação entre margens no rio Guadiana entre Alcoutim (Algarve) e Salúncar do Guadiana (Andaluzia) é efectuada por esta empresa. A aventura estava prestes a começar. E a adrenalina a aumentar…

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A “Tirolesa” que faz a travessia entre a Andaluzia e o Algarve. Só para os mais aventureiros!

Depois de uma aventura 4×4 num Land Rover até ao local do Slide, onde avistamos a beleza de Salúncar do Guadiana. Do topo, a cerca de 180 metros, temos uma bela vista aérea sobre Alcoutim e o rio Guadiana. O que levamos deste Mundo? Experiências. Aqui, podem ver o video do Slide no YOUTUBE De facto, viajar é descobrir-nos. E,claro, soltar o nosso outro eu. No meu caso, o sentido pela aventura. Já tinha saudades de fazer “Slide”. Nem parece que vamos a 80 Km/h. Em menos de um minuto estamos em Portugal. E o Medo? Esse ficou para segundo plano. E qual a razão? Há sempre uma,certo? A paisagem arrebatadora entre Salúncar do Guadiana e Alcoutim – as duas vilas gémeas do rio Guadiana -, como afirmou José Saramago, permite viver esta experiência devagar e com tempo.

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A pitoresca vila de Alcoutim, do topo do Castillo de San Marcos.

O Homem adapta-se ao meio. A cerca de um 1km para Norte da actual vila de Alcoutim, deparamo-nos com uma das melhores vistas do Algarve sobre o rio Guadiana. Aqui,podemos contemplar as três tipos de paisagem algarvia: o litoral, o barrocal e a serra. Do topo do castelo velho de Alcoutim – antigo Alcácer fortificado – do período Omíada (713-1031) edificado com as pedras com maior abundância na região:o xisto e o grauvaque. As suas origens remontam ao Século IX, segundo escavações arqueológicas recentes da Dr.ªHelena Catarino, e é uma das mais importantes estruturas militares islâmicas do Gharb-Al Andaluz. Como se sabe, o domínio muçulmano na Península Ibérica começa a ser ameaçado pela pressão da reconquista cristã, dai a necessidade de criar uma rede de fortificações de vigilância do território. É o caso do Castelo Velho de Alcoutim. Em virtude do seu difícil acesso (utilizado com funções de vigilância e de apoio à mineração), esta estrutura foi abandonada na época dos Almóadas e deu lugar ao actual Castelo Medieval de Alcoutim no Século XIV. A partir daqui, a população foi fixando-se junto ao leito do rio Guadiana.

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Ruínas do antigo alcácer fortificado de Alcoutim  (Época Omíada)

Em busca das vivências desta região castiça do Guadiana, surgiu uma parceria entre dois vizinhos e estrangeiros de Espanha e Portugal para recriar as memórias históricas e etnográficas comuns de outros tempos: o Festival do Contrabando. O objectivo é a promoção de Alcoutim e de Salúncar do Guadiana como destino turístico de experiências (natureza, eventos, património e gastronomia). Segundo a autarquia de Alcoutim, o “Festival do Contrabando é mais que um Festival, é a junção e fusão da homenagem a uma actividade que ao longo da história foi importante para as gentes da fronteira, com as artes e a cultura. A paisagem fronteiriça que desafiava os destemidos na passagem de mercadorias, agora é palco de vários projectos culturais que transportam para o interior das populações e seus visitantes, os sonhos e ambições, trazendo até à Vila Raiana uma oferta cultural que desafia todas as condicionantes existentes”. Durante os dias deste festival – a primeira edição – poderá reviver a arte de “contrabandear” dos anos 30 e 40 do Século XX, atravessar as duas margens do rio Guadiana numa ponte pedonal e  visitar uma região do Baixo Guadiana e do Sotavento Algarvio. Aqui, poderá encontrar um clima mediterrânico e um património edificado e natural genuíno. As praias fluviais – Pego Fundo – e o barrocal  são um convite para (e por) desvendar…o castiço Algarve Natural. Para mim, visitar o Algarve das Pontas…é reencontra-me.

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Como chegar

A partir de Lisboa optei por reservar uma viagem em Alfa pendular, através da Comboios de Portugal. Faro era a minha base para efectuar a Rota Omíada do Algarve. Para tal, optei por alugar uma viatura rent-a-car para fazer a ligação entre os diversos pontos histórico-culturais desta rota. Na maioria dos casos, utilizei a via do Infante (A22) e a Nacional 125. No caso da ida para Alcoutim, optei pela A22 até Castro Marim e depois o IC27 (Beja) até Alcoutim (N122-1).

Onde ficar

Estive uma semana no Hotel Faro. Fui recebido por uma equipe fantástica. A meu ver os pontos fortes deste Hotel são o seu restaurante (comida fantástica), os seus funcionários sempre prestáveis e o rooftop com uma vista fantástica sobre a Ria Formosa. A meu ver, o melhor rooftop de Faro. Já imaginaram almoçar com uma autêntica vista para as silhuetas que dão cor e forma à Ria Formosa?

Restaurante Ria Formosa

Praça D. Francisco Gomes, Nº2 8000-168 Faro Portugal

+351 289 830 830

✉️ Email: reservas@hotelfaro.pt

 

Onde comer:

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Perguntei ao Dr.Júlio Cardoso, técnico de turismo do Município de Alcoutim, um local típico para almoçar em Alcoutim. Estava nos meus planos almoçar no Centro Histórico de Alcoutim ou Salúncar do Guadiana. Persuadiu-me a ir almoçar à  Cantarinha do Guadiana, situada na localidade de Laranjeiras do Guadiana. Não me deixei enganar pelo espaço e pela falta de multibanco. De facto, o paladar conquista-se no prato. E a Senhora Isabel Ribeiros, a singular cozinheira, proporciona verdadeiros petiscos de cozinha regional alentejana e algarvia. Adorei saborear a comida tipicamente caseira e tradicional do interior algarvio, em especial, a sopa de tomate com ovos escalfados e o ensopado de enguias. Uma delicia para os viajantes andarilhos. E para acompanhar o café, nada como um “cheirinho” algarvio: o Medronho. Safa,mas aquece!

Para mais informações:

Região de Turismo do Algarve

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Festival do Contrabando (Página Oficial)

Projecto Umayyad Route 

Turismo do Algarve – Rota Omíada do Algarve (Folheto + App)

Turismo da Andaluzia (Oficial)

Ayuntamento de Salúncar do Guadiana (Turismo)

Limite Zero (Slide)

Nota importante

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

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Texto: Rafael Oliveira  | Fotografia: Oliraf Fotografia

Follow me: @oliraffotografia on Instagram | Oliraf Fotografia on Facebook

Fotografia•Viagens•Portugal © OLIRAF (2016)

Contact: oliraf89@gmail.com

 

 

 

 

 

📌 À descoberta de Cacela Velha: o castiço Algarve das pontas…

📌 São experiências amenas, algumas ainda por revelar. Fomos em busca da Rota Omíada do Algarve – inserida no projecto Umayyad Route – e descobrimos o legado material e imaterial desta Dinastia Árabe em Portugal, mas também as vistas sobre o oceano, a natureza, a gastronomia, os museus e experiências de aventura para viver na extremidade sul de Portugal e da Europa. Quem disse que o Algarve é quente só no Verão?

👤 Um pouco de História…

Os Omíadas foram uma Dinastia Islâmica a implementar o sistema hereditário do califado, após a morte do profeta Maomé. Eram oriundos da mesmo clã do profeta, a tribo dos Coraixitas, oriunda da cidade de Medina na Península Arábica. Daqui, transferiram a seu do seu poder para Damasco, na actual Síria. O califado Omíada de Damasco (661-750) expande a sua influência religiosa, cultural e militar para o Norte de África (Magrebe) e para a Península Ibérica (Al-Andalus), conquistada na primeira metade século VIII, sendo administrados pelo Emir de Cairuão (Tunisía), sob dependência directa do poder califal da Damasco. Em 750, os Abássidas assassinam a Dinastia Omíada, à excepção do Abderramão I que foge para a capital do Al-Andalus. Este, em 756,  funda o Emirato Omíada de Córdova (756-929), independente do poder califal abássida de Bagdad. O apogeu do poder omíada no Al-Andalus dá-se entre 929 e 1031, com a fundação do Califado Omíada de Córdova, em 929, por Abderramão III (891-961).

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O Forte e a Igreja de Cacela Velha: são os dois ex-libris desta povoação costeira

Cacela Velha é…um poema de pedra construído pelo Homem. Esta pequena grande povoação costeira do Sotavento Algarvio está localizada no concelho de Vila Real de Santo António. A meu ver, esta localidade é uma bela surpresa pela sua paisagem para a ria formosa, a arquitectura tradicional das casas típicas castiças e pela sua capatez. Além disso, as ruas têm o nome de poetas que fizeram parte da nossa cultura milenar. Chego a uma constatação: começo a gostar de outro Algarve. O Al-Gharb fora dos roteiros turísticos “habitué”: o das pontas.

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As castiças casas típicas desta localidade do litoral algarvio…

O Núcleo Histórico de Cacela Velha presenteia-nos com um pequeno conjunto de casas típicas do litoral algarvio. Todavia, os dois ex-libris desta pequena povoação é a sua fortaleza do Século XVI, reconstruída após o fatídico terramoto de 1755, e a Igreja com o seu portal renascentista. Na época Omíada, Qast´alla, Cacela em árabe, fora conquistada em 713 por forças califais de Abd al-Aziz ibn Musa (714-1715), o primeiro uale do Al-Andalus, isto é, um governador militar dependente do califa omíada de Damasco (661-750). Até à reconquista cristã, em 1240, a povoação ficou na jurisdição da cidade de Ossónoba (Faro) e assumiu o papel de primeiro aglomerado de carácter urbano situado a sudeste do actual território algarvio.

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Paisagem da ria Formosa

 

Uma curiosidade. Sabia que as ruas têm nomes de poetas se inspiraram nesta localidade para os seus poemas, como são os casos de Abû al-‘Abdarî, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade? Um pormenor delicioso. Visitar Cacela Velha é conhecer um outro Algarve: o genuíno e castiço. O Algarve das Pontas. A meu ver, o casario pitoresco, a pequena aldeia, a praia, fortaleza são uma bela harmonia na paisagem. Um belo exemplo do que o Homem consegue criar. Da visita à terra natal do poeta Ibn Darraj al-Qastalli (958-1030), um dos mais influentes do califado Omíada na época do poderoso Almançor,  levo na minha memória o som, ao fundo, do oceano atlântico…

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Pequena habitação para guardar os apetrechos de um pescador

Como chegar

A partir de Lisboa optei por reservar uma viagem em Alfa pendular, através da Comboios de Portugal. Faro era a minha base para efectuar a Rota Omíada do Algarve. Para tal, optei por alugar uma viatura rent-a-car para fazer a ligação entre os diversos pontos histórico-culturais desta rota. Na maioria dos casos, utilizei a via do Infante (A22) e a Nacional 125.

Onde ficar

Restaurante Ria Formosa

Praça D. Francisco Gomes, Nº2 8000-168 Faro Portugal
+351 289 830 830

✉️ Email: reservas@hotelfaro.pt

Para mais informações:

Região de Turismo do Algarve

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Blog Turismo do Algarve

Projecto Umayyad Route 

Turismo do Algarve – Rota Omíada do Algarve (Folheto + App)

Nota importante

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

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Texto: Rafael Oliveira  | Fotografia: Oliraf Fotografia

Follow me: @oliraffotografia on Instagram | Oliraf Fotografia on Facebook

Fotografia•Viagens•Portugal © OLIRAF (2016)

Contact: oliraf89@gmail.com

📌 À descoberta da Rota Omíada do Al-Gharb: roteiro fotográfico pelo legado material e imaterial dos Omíadas em Portugal 📷

📌 São experiências amenas, algumas ainda por revelar. Fomos em busca da Rota Omíada do Algarve – inserida no projecto Umayyad Route – e descobrimos o legado material e imaterial desta Dinastia Árabe em Portugal, mas também as vistas sobre o oceano, a natureza, a gastronomia, os museus e experiências de aventura para viver na extremidade sul de Portugal e da Europa. Quem disse que o Algarve é quente só no Verão?

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Fam Trip pela Rota Omíada do Algarve @ OLIRAF (2016)

👤 Um pouco de História…

Os Omíadas foram uma Dinastia Islâmica a implementar o sistema hereditário do califado, após a morte do profeta Maomé. Eram oriundos da mesmo clã do profeta, a tribo dos Coraixitas, oriunda da cidade de Medina na Península Arábica. Daqui, transferiram a seu do seu poder para Damasco, na actual Síria. O califado Omíada de Damasco (661-750) expande a sua influência religiosa, cultural e militar para o Norte de África (Magrebe) e para a Península Ibérica (Al-Andalus), conquistada na primeira metade século VIII, sendo administrados pelo Emir de Cairuão (Tunisía), sob dependência directa do poder califal da Damasco. Em 750, os Abássidas assassinam a Dinastia Omíada, à excepção do Abderramão I que foge para a capital do Al-Andalus. Este, em 756,  funda o Emirato Omíada de Córdova (756-929), independente do poder califal abássida de Bagdad. O apogeu do poder omíada no Al-Andalus dá-se entre 929 e 1031, com a fundação do Califado Omíada de Córdova, em 929, por Abderramão III (891-961).

📌 Dia 1 – 05/12 (Segunda-feira) Faro – Ossónoba (أخشونبة)

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Alfapendular na Estação Ferroviária de Faro

Rumo ao Gharb Al-Andalus. Antes de partir, peço a Al’Mutamid  sabedoria para a escrita e a Al-Idrisi, orientação geográfica para esta “epopeia” algarvia. Depois da saída de Lisboa, às 8h30, no “TGV” da nossa realidade portuguesa, isto é, o Alfa Pendular chego à capital do antigo Reino dos Algarves: Faro. Ou como quiserem chamar al-Harun (فارو),  Shantamariyyat al-Gharb (شنتمريّة الغرب) ou Ossónoba. Eu prefiro a ultima. A viagem demorou menos de quatro horas para percorrer quase 300km, a uma velocidade média de 150 Km/h.

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Aspecto parcial do Quarto Standard do Hotel Faro

Sou recebido na recepção do Hotel Faro. Enquanto faço o chek-in, o Francisco – funcionário, aconselha-me os melhores sugestões para “perder-me”pela cidade de Faro. Oferece-me um mapa da cidade e indicou-me os locais mais sugestivos, a nível fotográfico, para eu percorrer. Depois de efectuado o Check-in, aconselhou-me a almoçar no restaurante Ria Formosa, localizado no rooftop do mesmo hotel. Aqui, podemos encontrar uma fantástica piscina e uma esplanada com um panorama para o casario branco e ria formosa. Já na oferta gastronómica, a meu ver, é uma tertúlia de sabores e emoções. Com o tempo, de facto, vamos aprendendo a saborear e a degustar os prazeres da vida. E a comida e o vinho é um prazer. Baco que o diga. A essência da gastronomia Algarvia e, claro, da dieta mediterrânica. O Pão de Alfarroba. Top. E a saladinha divinal. Agora, percebo o 2ºConde de Essex, Robert Devereux (1566-1601), ter saqueado a Sé de Faro em 1596. Vá, agora a sério, eu prefiro “saquear” e saborear a gastronomia algarvia. E a cereja no topo do bolo, na minha opinião, é a vista panorâmica sobre a …ria formosa.

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A Gastronomia Algarvia é uma tertúlia de sabores para desfrutar e apreciar

Ernesto Cabrita, o responsável pela LOOK-AL, um apaixonado pela sua cidade e,claro, pela sua região.Através do mesmo, podemos viajar pelas estórias da História e pelas Lendas da capital do Al-Gharb. A meu ver, trata-se  de um projecto alternativo que proporciona aos seus clientes vivências genuínas e inesquecíveis pelo centro histórico da cidade de Faro, neste caso, pela Vila-Adentro. Antes de iniciarmos o trajecto, sugeriu-me uma experiência diferente: um  Recital de Guitarra Portuguesa com o guitarrista João Cuña.

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Recital de Guitarra Portuguesa no Arco da Vila Adentro

Para mim, foi mais do que uma experiência, foi uma viagem às raízes materiais e sonoras do fado em Portugal.  Adorei, em especial, o fado da Vila-Adentro que nos transporta para outras épocas. De seguida, iniciamos um périplo pelas curiosidades históricas, lendas e locais milenares da cidade de Faro. Iniciamos o nosso percurso pelo Arco da Vila, Sé Velha, antiga medina, túneis do séc.XI, a capela dos Ossos e pela antiga judiaria da cidade. Todavia, o que mais cativou foi o miradouro da Sé de Faro tem uma das melhores vistas sobre a cidade e a ria formosa.

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Antiga Porta em Ferradura do Período Omíada da cidade de Faro

Após a experiência histórico-cultural proporcionada pela Look-Al, acabamos em grande com um “Workshop” individual na garrafeira About Wine. Aqui, sou recebido pelo jovem casal, o Luís e a Alexandra, que me elucidam sobre a essência do seu projecto surgido em 2010.  Mais do que beber um vinho, seja ele um branco ou tinto, há que saber conjugá-lo com os sabores certos. Esta visita elucidou-me como saborear um bom vinho, qual a postura correta na degustação e os petiscos que se adequam a cada tipo de vinho. Adorei, em especial, o vinho branco algarvio Malaca. Mais do que uma experiência em enoturismo, uma visita a esta garrafeira é embeber a cultura vinícola do Algarve e das diversas regiões de Portugal.

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Provas de Vinhos e Petiscos da Região do Algarve na About Wine

De seguida, sou recebido na Tertúlia Algarvia. Um dos sócios, enquanto não vem o manjar, fala-me do conceito gastronómico deste restaurante em plena Vila-Adentro. A sua especialidade é a cataplana algarvia. Mas, os filetes de cavala e a milenar Muxama de atum não ficam nada atrás.

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Vista Geral do Restaurante Tertúlia Algarvia

📌 Dia 2 – 06/12 (Terça-feira) Vila do Bispo – Cabo São Vicente

A minha primeira “Fam Trip”, como blogger convidado pela Região do Turismo do Algarve para promover um destino de uma rota cultural. O objectivo foi «Redescobrir os Segredos do Algarve em Vila do Bispo e a Rota Omíada» pelos operadores turísticos, entidades, jornalistas regionais. mais do que conhecer um dos principais destinos turísticos de Portugal, mas também conhecer alguns segredos não revelados desta localidade algarvia e embeber o legado árabe na região. Após uma viagem de autocarro entre Faro e Vila do Bispo, chegamos ao Centro de Interpretação de Vila do Bispo. Aqui, somos recebidos pelo Presidente da RTA, Desidério Silva, a Directora-Regional da Cultura do Algarve,Drª Alexandra Gonçalves e pelo autarca local, o Dr.Adelino Soares.

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Menir do Padrão: um exemplo da ocupação humana desde a Pré-História

De seguida, somos levados em itinerância pelo legado material e imaterial do concelho mais extremo do Continente Europeu pelo arqueólogo da autarquia local Ricardo Soares. Primeira paragem: o Menir do Padrão na Raposeira. Trata-se de um monumento megalítico melhor preservado e com mais estudos de entre os demais. Ricardo Soares elucida-nos que Vila do Bispo é a área de maior concentração de menires do ocidente europeu, ao todo 250,  provavelmente os mais antigos e dos primeiros. Tal facto, é demonstrativo da ocupação humana desde a Pré-História.

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Boca do Rio: o Algarve das Pontas em todo o seu esplendor.

Antes de irmos para a Boca do Rio, opto por trocar umas breves palavras com o arqueólogo Ricardo Soares. Tal como eu, é um amante da arte fotográfica e tem um blogue sobre arqueologia. Afinal, não sou o único que concilia a sua paixão pela fotografia com o gosto pela História. Já na Boca do Rio, podemos percorrer a ocupação humana deste território: uma villa romana dedicada à indústria conserveira (saiam verdadeiros petiscos para Roma daqui), uma fortificação da século XVII para proteger a pesca de atum, naufrágios do século XX perpetuadas por U-Boats Alemães e o impacto do Tsunami que se seguiu ao Sismo de 1755 na orla costeira do Algarve.  Apercebo-me da existência de um trilho para a compreensão da biodiversidade local. Dirigi-me para lá para captar alguns registos fotográficos. A Paisagem era brutal. Apetecia-me mergulhar, literalmente, nela…

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Retrato de grupo da “Fam Trip” por Vila do Bispo @ Créditos fotográficos RTA

Retrato de Grupo. Nas viagens o que levamos delas, a meu ver, são as experiências e as pessoas. Foi de salutar o espírito de convívio e a troca de experiências entre os profissionais, técnicos e jornalistas da área do Turismo da Região do Algarve. Dizem que os melhores negócios ou iniciativas fecham-se à mesa,certo? Então, nada como um almoço tipicamente algarvio para saborear novas parcerias. O Almoço foi no Forte de Santo António de Beliche, perto do promontório de Sagres, do qual temos uma excelente panorama sobre um anfieteatro natural entre o azul do céu e do mar. Algarve, what else?

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Papas de Xerém

O Almoço apresentava na ementa alguns dos produtos tradicionais da gastronomia algarvia, em especial, do concelho de Vila do Bispo. Sabores da Terra  e do Mar. As estrelas “Michelin” eram o Pão com Azeitona  e ovos verdes; as Papas de Xerém; a Estupeta de Atum; a Açorda de Borrego e grão com hortelã; Sobremesa com doces tipicos Algarvios; Vinho do Algarve (Pacha). O que dizer, depois desta tertúlia de sabores? O Algarve é “crime” a nível gastronómico. Um sabor familiar. A Estupeta de Atum relembrou-me as saladas que comi em Marrocos. Lá está, as evocações ao marcante legado imaterial islâmico.

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Forte de Santo António de Beliche, situado nas proximidades do Cabo São Vicente

Farol do Cabo de São Vicente. A minha segunda estreia num Farol da Marinha Portuguesa, depois da minha aventura na Ilha da Berlenga. Somos recebidos pelo faroleiro de serviço que nos faz uma visita guiada ao quotidiano habitual de um faroleiro e pela história deste farol construído em 1834 pela rainha D.Maria II e remodelado nos finais do Século XIX e princípios do Século XX. A torre do farol tem uma altura de 28 me e o seu alcance luminoso é de 32 milhas (c. 59 km). Desde a antiguidade que o Cabo de São Vicente tem sido local de romaria, existindo a mítica Ermida do Corvo, algures em Sagres, um templo dedicado ao culto de São Vicente. Segundo documentou o geógrafo árabe Al-Idrisi, a Kanisast Al-Gurab, a “Igreja dos Corvos” encontrava-se no fim da finisterra mediterrânica. Aliás,  actual Farol já foi um antigo espaço monástico (frades Jerónimos e Capuchos) que dava apoio a peregrinos.

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Torre do Farol do Cabo de São Vicente (1906)

A visita terminou  com um mágico pôr-do-sol no extremo mais sudoeste da Europa: o Cabo de São Vicente. É um “Sunset” poético em que muitos o descreveram na mitologia clássica greco-romana. Pude comprovar que, apesar de ser um dia de semana, estava uma autêntica romaria para um dia de sol ameno. Mas, muitos viviam a experiência através dos ecrãs dos seus aparelhos fotográficos e telefónicos. Sociedade dos Ecrãs. Vivemos o real no Digital. Infelizmente. Eu tento moderar um pouco esse conceito. Nem quero imaginar no pico do Verão, quando estiverem aqui milhares de turistas. Quem não gosta de acabar em grande o seu dia, a contemplar o fenómeno celeste?

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Aspecto do Sunset em pleno Cabo de São Vicente

📌 Dia 3 – 07/12 (Quarta-feira) Silves as-Shilb (شلب

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Vista parcial da antiga medina e alcácer de Xilb

Silves ou a Xilb de Al-Mu’tamid. Atrevo-me a chamar-lhe a “Alhambra Portuguesa”,mas em formato miniatura. Trata-se da jóia da arquitectura militar da época islâmica em Portugal. Já tinha cá estado em 2008 durante a minha viagem de ferry-boat entre a Ilha da Madeira (Funchal) e Portugal Continental (Portimão). Não tinha a ideia do blogue,mas tinha o gosto pela viagem, fotografar e pelo património histórico-militar. Quem diria que iria voltar aqui, desta vez, oitos anos como blogger trip. A vida dá muitas voltas e, em muitos casos, 180º.

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Museu Municipal de Arqueologia de Silves

O Museu Municipal de Arqueologia de Silves foi o resultado das escavações arqueológicas desenvolvidas ao longo do séc.XX. No centro do espaço, podemos visualizar um Poço-Cisterna da época Almóada (séculos XII-XIII), descoberto após escavações arqueológicas decorridas nos anos 80 do séc. XX . Esta hoje classificado como Monumento Nacional. É apartir dela – o ex-libris do discurso expositivo – que fazemos o percurso  desta visita guiada com a Dr.ª Dr.ª Maria José Gonçalves, actualmente arqueóloga do Município de Silves. Trata-se de uma académica especializada em cidades medievais islâmicas, nos campos da arqueologia e da história. E isso denota-se no seu discurso. Levei, literalmente, uma lição de História e de Arqueologia.

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Peça do Mês (Dezembro 2016) – Prato de Louça de Mesa  da Época Omíada (séculos VIII-IX)

Apresenta-me, passo-a-passo, o acervo do Museu, na sua maioria proveniente das escavações arqueológicas efectuadas na cidade e concelho. O acervo reúne um conjunto de objetos desde o Paleolítico até ao período Medieval. Constato que há imensos achados arqueológicos em quantidade, mas que valem pela sua qualidade e excepção de ornamentos e pictóricos. E como Silves era a principal cidade do Gharb Al-Andalus, este museu tem no seu acervo um grande destaque para o Período Islâmico – Omíada, Califal, Taifa, Almorávida e Almóada, desde o século VIII ao século XIII, ou seja, ao período cronológico da ocupação árabe ao que hoje corresponde ao território algarvio. O visitante que percorrer este espaço museológico irá compreender a importância da cidade de Silves no período islâmico. Silves é legado mais vivo e duradouro do património islâmico em Portugal. Dai, ter-me demorado mais por esta cidade emblemática.

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Interior do Castelo de Silves – ruínas de uma antiga residência apalaçada da época islâmica

Depois da visita ao espaço museológico, inserido na antiga medina de Silves, fomos visitar o antigo alcácer islâmico: o actual Castelo Silves. A sua pedra avermelhada – grés de Silves – dá outra cor e magnificência a este antigo complexo bélico. Digo actual, visto que, nas décadas de 30 e 40 do Século XX, a Direção de Monumentos Nacionais uniformizou a traça dos Castelos Medievais Portugueses, muitos deles em estado de ruína, à imagem do Castelo de Guimarães. Como Portugal fez-se da conquista de território aos Mouriscos, não interessava para o Estado Novo – regime ditatorial – manter esse legado, mas sim o papel fundador de Guimarães na construção  e formação da identidade Portuguesa. O que diria  Al-Mu’tamid se visse a sua amada Xilb nos dias hoje? Apesar de tudo, dedicaria-lhe um poema…do seu declínio.

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Soga e Tição: método de construção omíada nas Muralhas do Alcácer de Silves

Os Muçulmanos aproveitaram muitas técnicas de construção romanas para a construção das suas muralhas defensivas, por exemplo, sob a forma de silharia de tipologia romana redisposta num padrão regular, a soga e tição. Actualmente, este é um dos poucos exemplares existentes nas muralhas de Silves que, ao longo dos séculos, foi sofrendo inúmeras alterações efectuadas pelo Homem e pelo tempo.

📌 Dia 4 – 08/12 (Quinta-feira) Tavira (Tabîra) e Cacela Velha

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Vista geral do Centro Histórico de Tavira

Em árabe, Tabîra quer dizer “a escondida”. Esta cidade do Sotavento Algarvio possui muitas curiosidades e é um regalo para os nossos olhos. E porquê? Vejamos, Tavira possui a beleza do seu rio Gilão, das suas salinas, da ria formosa, as suas antigas muralhas donde podemos avistar a arquitectura urbana e os museus que contam o seu dinamismo comercial e estratégico ao longos dos tempos. A partir do Século XII, esta localidade algarvia tornou-se um dos principais centros marítimos e comerciais da costa algarvia. Havia dois factores: um porto defensável e a posição estratégica da estrada que ligava, através da ponte do rio Gilão, Sevilha a Silves. Juntamente com Xilb e Ossónoba, Tabîra era uma das mais importantes cidades do Gharb Al-Andalus. Ao percorrer o centro histórico da cidade, podemos comprovar esta importância pela dimensão do seu Castelo e, mais tarde, com as inúmeras Igrejas em diversos estilos arquitectónicos são como uma viagem pela História de Arte em Portugal.

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Minarete Islâmico? Apenas a Torre Sineira da Igreja de Santa Maria Tavira

Mais do que falar sobre as raízes da História da cidade de Tavira, o Núcleo Museológico Islâmico desta cidade é um convite à descoberta do legado material e imaterial da época islâmica. Este núcleo do Museu Municipal de Tavira foi inaugurado em 2012 precisamente no local onde foi achado o famoso “Vaso de Tavira” (1996). Tem na sua exposição permanente – Tavira Islâmica – uma abordagem histórica sobre  a cidade no período islâmico até à reconquista cristã. Resultou, assim, das intervenções arqueológicas efectuadas em vários locais do centro histórico da cidade como, por exemplo, o Bairro Almóada, situado no Convento da Graça.

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Capitel Omíada da Exposição permanente  “Tavira Islâmica”

Encontro-me com a Dr.ª Sandra Cavaco, a arqueóloga do Município de Tavira, que será a minha guia nesta viagem pela máquina do tempo.A sua linguagem é simples e directa, indo ao encontro dos meus interesses. Fala-me do passado milenar desta cidade, habitada por civlizações antigas, em virtude da sua posição estratégica (oceano atlântico) e comercial (porto de pesca e salinas). Na época islâmica, a cidade de Tabîra era uma “República” de Piratas que atacavam o comércio maritimo muçulmano ou cristão, dando guarida a gentes de má fama. Por esta razão, o poder centralizado islâmico – Almorávidas e Almóadas – por sucessivas ocasiões intentou submeter esta cidade de piratas à sua lei. Os Tavirenses só submeteram-se em 1239 à Ordem Militar de Santiago. De acordo com a Crónica da Conquista do Algarve, Tavira foi conquistada aos mouros, em Junho de 1239, por D. Paio Peres Correia, como represália pela morte de sete dos seus cavaleiros. Aqui, denotamos a importância da Ordem Militar de Santiago para a reconquista do Alentejo e do Algarve ao serviço da Coroa Portuguesa.

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O Vaso de Tavira é o ex-libris deste espaço Museológico

O Vaso de Tavira é uma peça peculiar e singular a nível Mundial. É o ex-libris deste espaço museológico e da sua exposição permanente. Segundo académicos, o vaso parece representar um rapto nupcial. Apresenta no bordo onze figuras e nas paredes, linhas, retículas, peixes e outros elementos pintados a branco. Destaca-se a noiva com a face descoberta e o noivo com um turbante, ambos a cavalo; um besteiro e um cavaleiro; um tocador de tambor e de adufe; uma tartaruga e várias pombas; e o dote, constituído por um bovídeo, um caprídeo, um camelo e um ovino.Importa também destacar, a torre em Taipa Militar, os restos da muralha islâmica do século XII e o capitel em mármore branco datado da época califal omíada, originária das oficinas da Madinat al-Zahra em Córdoba.

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Cacela Velha: entre o azul do céu e do mar…

Cacela Velha é…um poema de pedra construído pelo Homem. Esta pequena grande povoação costeira do Sotavento Algarvio está localizada no concelho de Vila Real de Santo António. A meu ver, esta localidade é uma bela surpresa pela sua paisagem para a ria formosa, a arquitectura tradicional das casas típicas castiças e pela sua capatez. Além disso, as ruas têm o nome de poetas que fizeram parte da nossa cultura milenar. Chego a uma constatação: começo a gostar de outro Algarve. O Al-Gharb fora dos roteiros turísticos “habitué”: o das pontas.

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Casas Típicas de Cacela Velha

O Núcleo Histórico de Cacela Velha presenteia-nos com um pequeno conjunto de casas típicas do litoral algarvio. Todavia, os dois ex-libris desta pequena povoação é a sua fortaleza do Século XVI, reconstruída após o fatídico terramoto de 1755, e a Igreja com o seu portal renascentista. Na época Omíada, Qast´alla, Cacela em árabe, fora conquistada em 713 por forças califais de Abd al-Aziz ibn Musa (714-1715), o primeiro uale do Al-Andalus, isto é, um governador militar dependente do califa omíada de Damasco (661-750). Até à reconquista cristã, em 1240, a povoação ficou na jurisdição da cidade de Ossónoba (Faro) e assumiu o papel de primeiro aglomerado de carácter urbano situado a sudeste do actual território algarvio.

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Aspecto geral da Igreja e Fortaleza de Cacela Velha

Uma curiosidade. Sabia que as ruas têm nomes de poetas se inspiraram nesta localidade para os seus poemas, como são os casos de Abû al-‘Abdarî, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Eugénio de Andrade? Um pormenor delicioso. Visitar Cacela Velha é conhecer um outro Algarve: o genuíno e castiço. O Algarve das Pontas. A meu ver, o casario pitoresco, a pequena aldeia, a praia, fortaleza são uma bela harmonia na paisagem. Um belo exemplo do que o Homem consegue criar. Da visita à terra natal do poeta Ibn Darraj al-Qastalli (958-1030), um dos mais influentes do califado Omíada na época do poderoso Almançor,  levo na minha memória o som, ao fundo, do oceano atlântico…

📌 Dia 5 – 09/12 (Sexta-feira) Alcoutim (Algarve, Portugal) – Salúncar do Guadiana (Andaluzia, Espanha)

Alcoutim. Terra de Fronteira. O Algarve Natural. São os slogan(s) do Município de Alcoutim para promover esta singela vila nas margens do Guadiana. Tal como José Saramago, o nosso Nobel da Literatura (1998), esteve nestas paragens, em 1980, no âmbito da sua Viagem a Portugal, deixo-me surpreender pela singularidade de Salúncar do Guadiana e do seu “Guerreiro de Pedra” – o Castillo de San Marcos – que domina a paisagem. Esta pequena urbe nasceu da necessidade do controlo e vigilância do transporte de bens alimentares (trigo, azeite e mel) e de minério (ouro,prata e cobre), através do rio Guadiana, pelas  ocupações humanas sucessivas que a usavam na transição entre as rotas comerciais do Mediterrâneo e do Atlântico.

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Vila de Alcoutim,vista do rio Guadiana

Depois de fotografar as vistas (e que vistas), dirigi-me para a experiência do slide fronteiriço agendada para a parte de manhã, com a limitezero do inglês David Jarman, radicado à treze anos nesta zona da raia luso-espanhola. Contacto com o responsável da empresa de animação turística Fun River, o Dr.José Cavaco, que me informa que o seu funcionário estava em Espanha e que me iria buscar dentro de momentos. A única ligação entre margens no rio Guadiana entre Alcoutim (Algarve) e Salúncar do Guadiana (Andaluzia) é efectuada por esta empresa. A aventura estava prestes a começar.

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“El bloggeiro portugues” desafiando os seus limites a 80 km/h até Portugal

Depois de uma aventura 4×4 num Land Rover até ao local do Slide, onde avistamos a beleza de Salúncar do Guadiana. Do topo, a cerca de 180 metros, temos uma bela vista aérea sobre Alcoutim e o rio Guadiana. O que levamos deste Mundo? Experiências. Aqui, podem ver o video do Slide no YOUTUBE De facto, viajar é descobrir-nos. E,claro, soltar o nosso outro eu. No meu caso, o sentido pela aventura. Já tinha saudades de fazer “Slide”. Nem parece que vamos a 80 Km/h. Em menos de um minuto estamos em Portugal. E o Medo? Esse ficou para 2ºPlano. Razão? A paisagem arrebatadora entre Salúncar do Guadiana e Alcoutim – as duas vilas gémeas do rio Guadiana -, como afirmou José Saramago, permite viver esta experiência devagar e com tempo.

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Sopa de tomate com ovos escalfados

Perguntei ao Dr.Júlio Cardoso, o técnico de turismo do Município de Alcoutim, um local típico para almoçar em Alcoutim. Estava nos meus planos almoçar no Centro Histórico de Alcoutim ou Salúncar do Guadiana. Persuadiu-me a ir almoçar à  Cantarinha do Guadiana., situada na localidade de Laranjeiras do Guadiana. Não me deixei enganar pelo espaço e pela falta de multibanco. De facto, o paladar conquista-se no prato. E a Senhora Isabel Ribeiros, a singular cozinheira, proporciona verdadeiros petiscos de cozinha regional alentejana e algarvia. Adorei saborear a comida tipicamente caseira e tradicional do interior algarvio, em especial, a sopa de tomate com ovos escalfados e o ensopado de enguias. Uma delicia para os viajantes andarilhos. E para acompanhar o café, nada como um “cheirinho” algarvio: o Medronho. Safa,mas aquece!

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Um local a visitar pelos níveis de ocupação humana que conserva da época islâmica

O Homem adapta-se ao meio. A cerca de um 1km para Norte da actual vila de Alcoutim, deparamo-nos com uma das melhores vistas do Algarve sobre o rio Guadiana. Do topo do castelo velho de Alcoutim – antigo Alcácer fortificado – do período Omíada (713-1031) edificado com as pedras com maior abundância na região:o xisto e o grauvaque. As suas origens remontam ao Século IX, segundo escavações arqueológicas recentes da Dr.ªHelena Catarino, e é uma das mais importantes estruturas militares islâmicas do Gharb-Al Andaluz. Como se sabe, o domínio muçulmano na Península Ibérica começa a ser ameaçado pela pressão da reconquista cristã, dai a necessidade de criar uma rede de fortificações de vigilância do território. É o caso do Castelo Velho de Alcoutim. Em virtude do seu difícil acesso (utilizado com funções de vigilância e de apoio à mineração), esta estrutura foi abandonada na época dos Almóadas e deu lugar ao actual Castelo Medieval de Alcoutim no Século XIV. A partir daqui, a população foi fixando-se junto ao leito do rio Guadiana.

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No Castelo de Alcoutim, no Núcleo de Arqueologia, está exposta a maior coleção de jogos de tabuleiro, do período omíada, que se tem conhecimento a nível mundial.

Como apaixonado pelo legado material e imaterial do Al-Andalus, adorei percorrer as diversas localidades que me foram sugeridas no programa da Rota Omíada do Algarve. Pude descobrir as estórias da História de cada uma, a importância dos achados arqueológicos para a materialização das fontes documentais, e os ensinamentos em Geografia foram uma ajuda constante ao longo destes cinco dias. Para mim, esta foi uma das melhores experiências de aprendiz de historiador-fotógrafo itinerante. Estou agradecido à Dr.ªCláudia Ruivinho, coordenadora da Rota Omíada do Algarve, pela elaboração desta Blogger Trip e à Região do Turismo do Algarve, Dr.Assis Coelho, pelo acompanhamento constante para que tudo estivesse ao meu dispor durante o percurso fotográfico pela Rota Omíada do Al-Gharb. E aos técnicos dos Municípios de Silves, Tavira e Alcoutim que me acompanharam e elucidaram-me da riqueza dos seus respectivos concelhos. Muito Obrigada. Bem Hajam!

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Alcoutim e Salúncar do Guadiana: “Duas vilas como irmãs gêmeas, que se vêm como o espelho uma da outra.”, referiu José Saramago em 1980.

Durante a descoberta da Rota Omíada, Abderramán I, Al-Mutamid, Al-Idrisi e,Ibn Darraj al-Qastalli, foram excelentes companheiros de viagem…interior. Shukran. Mais do que uma viagem pela história, foi uma “panóplia” de experiências pessoais e colectivas que podem ser partilhadas digitalmente,mas que devem ser vividas na primeira pessoa. É isso que convido o leitor do blogue OLIRAF a fazer: viver estas experiências. Não haverá melhor sensação do que sair da nossa “zona de conforto”?  👌

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Como chegar

A partir de Lisboa optei por reservar uma viagem em Alfa pendular, através da Comboios de Portugal. Faro era a minha base para efectuar a Rota Omíada do Algarve. Para tal, optei por alugar uma viatura rent-a-car para fazer a ligação entre os diversos pontos histórico-culturais desta rota. Na maioria dos casos, utilizei a via do Infante (A22) e a Nacional 125. No caso da ida para Alcoutim, optei pela A22 até Castro Marim e depois o IC27 (Beja) até Alcoutim (N122-1).

Onde ficar

Hotel Faro

Praça D. Francisco Gomes, Nº2 8000-168 Faro Portugal
+351 289 830 830

✉️ Email: reservas@hotelfaro.pt

Onde comer:

Restaurante Ria Formosa – Hotel Faro

Para mais informações:

Região de Turismo do Algarve

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Projecto Umayyad Route 

Projeto Umayyad Route (Site) | Roteiro Omíada Algarve (PDF)

Nota importante

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

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Texto: Rafael Oliveira  | Fotografia: Oliraf Fotografia

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