📌 À descoberta da Ponte da Ajuda: um belo exemplar da arquitetura civil manuelina…

📝Se Elvas destaca-se pela geometria e pela monumentalidade da arquitetura militar barroca dos séculos XVII e XVIII, a Ponte da Ajuda, a 10 km, é um perfeito exemplar da arquitetura civil manuelina do século XVI. Situada na margem direita do rio Guadiana, esta obra notável da engenharia lusitana tinha como missão  a circulação viária de bens, mercadorias e tropas entre as localidades de Elvas e Olivença. Era, assim, a única via de comunicação entre a fronteira portuguesa e a praça-forte de Olivenza em caso de socorro bélico a um assédio das hostes castelhanas. 

O rio Guadiana é o marco de fronteira natural que separa, desde tempos milenares, os povos que ocuparam a Península Ibérica. Lusitanos, Romanos, Visigodos, Árabes, Cristãos, entre outros, recreavam-se no curso de água mais importante e navegável da região Sul de Portugal. Os árabes chamavam-lhe “Uadiana”, “Uádi”, em árabe significa rio, e “Ana”, um antigo nome que dado pelos romanos. É neste afluente natural que ficada edificada a Ponte de Nossa Senhora da Ajuda. Construída, em 1509, no reinado de El- Rei D. Manuel I (1495-1521),  ficando para a posterioridade com o cognome do  “Venturoso“, encontra-se, actualmente, em ruínas. Originalmente, era constituída por dezanove arcos, com uma torre militar ao centro. Ao todo,  tinha cerca de 400 metros de comprimento. É uma obra notável da engenharia que ainda resiste ao tempo e ao Homem!

Em virtude dos aluviões e das cheias constantes foi parcialmente destruída no final do século XVI. Mais tarde, no contexto da Guerra da Restauração, foi reconstruída para permitir o socorro de tropas, equipamento bélico e víveres aos constantes assédios militares dos exércitos castelhanos de Felipe IV. Olhando a História, compreende-mos a razão da sua reconstrução: o fim da Monarquia Dual (1580-1640) e o início da luta pela restauração da independência nacional. 

No contexto da Guerra da Sucessão de Espanha (1701-1714), em 1709, esta ponte foi destruída parcialmente pelo exército Bourbon de Felipe V, neto de Louis XIV de França. Era o pronúncio antigo da ocupação efectiva de um território reclamado pelos castelhanos e, mais tarde, Espanhóis desde a época da Reconquista Cristã, aquando do assédio português à Taifa de Badajoz, na segunda metade do século XII, pelas forças do nosso primeiro rei D.Afonso Henriques.

Desde então, ficou impedida a passagem directa do território português para Olivença. Em 1801, no contexto da Guerra das Laranjas, dá-se a ocupação pelas forças espanholas de Godoy da vila portuguesa, cujos direitos portugueses foram reconhecidos pelos tratados de Alcanizes (1297) e de Viena (1815), mas nunca pelas autoridades espanholas. E na minha opinião, as autoridades portuguesas nunca souberam, ou não têm interesse, em valer os seus “reais e justos” direitos. Desculpem um aprendiz de viajante andarilho tem de ter opiniões, certo?

Há projectos para a sua reconstrução, mas em virtude das querelas fronteiriças entre Portugueses e Espanhóis, tal não foi possível ainda. Assim, entre 1709 a 2001, quem quisesse visitar Olivenza, teria de passar a fronteira do Caia em Badajoz. Actualmente, o viajante pode transpor, sem qualquer dificuldade, o território português, graças à nova ponte da Ajuda, em betão armado e sem qualidade estética, construída e financiada integralmente pelo Governo de Portugal.

Hoje em dia, os Portugueses e os Espanhóis são duas faces da mesma moeda: a Península Ibérica. Ao contemplar a ponte da Ajuda, o viajante fica ciente que a sua história foi feita ao ritmo dos confrontos bélicos entre os dois lados da fronteira. Daí, as sucessivas destruições e construções ao longo de mais dois séculos. Infelizmente, desde a primeira metade do século XVIII, que está em ruínas. Falar da ponte da ajuda, a meu ver, é falar estórias que fizeram a História de Portugal. 

Deixo-vos um olhar fotográfico desta icónica e histórica ponte do rio Guadiana. Quem disse que a silhueta das ruínas não é fotogénica? 

Alguns dos pontos de interesse nas proximidades da ponte da ajuda

• Fortaleza de Juromenha • Vila de Olivença • Praça-forte de Elvas • Rio Guadiana • Cidade de Badajoz (Espanha) • Forte de Nossa Senhora da Graça (Elvas) • Castelo de Campo Maior •

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Sabia que…❓❓❓

Nos mapas da Península Ibérica, a linha de fronteira que separa Portugal de Espanha está interrompida entre o Caia, em Elvas e a ribeira de Cuncos em Mourão. Ao longo de quase cem quilómetros, não foram colocados os marcos 802 a 899. No “meio”, entre uma extensa planície rodeada de azinheiras e banhada pelo rio Guadiana (Albufeira do Alqueva), emerge a vila de Olivença. A paisagem envolvente assemelha-se à região do Alentejo, com estruturas arquitetónicas à semelhança das localidades alentejanas.

▸Uma velha controvérsia ainda tem consequências reais. A designada “questão de Olivença” é há mais de 200 anos motivo de incómodo diplomático entre Lisboa e Madrid. Portugal não reconhece a soberania espanhola sobre o território de Olivença baseado numa interpretação diferente do Congresso de Viena de 1815 e do Tratado de Badajoz de 1801. Na atualidade, Portugal não reclama abertamente a restituição de Olivença, mas também não renuncia à sua pretensão.

▸Olivença, com cerca de 11 quilómetros da fronteira luso-espanhola, é uma cidade na zona raiana com um território de cerca de 750 km² e cerca de 12 mil habitantes. Este município fica situado a 11 quilómetros da fronteira luso-espanhola, a sul de Badajoz e Elvas, na região da Extremadura Espanhola. Reivindicada por direito por Portugal, desde o tratado de Alcanizes, em 1297, mas que Espanha anexou e mantém integrada na província de Badajoz, na comunidade autónoma da Extremadura, apesar de ter reconhecido a soberania portuguesa sobre a cidade quando subscreveu o Congresso de Viena, em 1817.

▸Muitos oliventinos, descendentes de portugueses, sentem-se filhos dos dois países calcula-se que serão quase três mil as pessoas com dupla nacionalidade. A maioria está plenamente satisfeita e orgulhosa do seu passado e da sua história, o que os torna únicos e [com uma identidade única] em toda a Península Ibérica.

▸O bicentenário contencioso sobre Olivença não deixa de pairar como uma sombra no relacionamento dos dois países vizinhos, se bem que politicamente silenciada. Ainda hoje, os marcos de fronteira não estão delimitados…e a Igreja de Santa Maria Madalena denuncia o legado da presença portuguesa em Olivença!

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Bibliografia

As fronteiras luso-espanholas : das questões de soberania aos fatores de união. Org. Francisco Pereira Coutinho, Mateus Kowalski; design José Brandão, Susana Brito. [Lisboa] : Instituto Diplomático : Ministério dos Negócios Estrangeiros, 2014. 200, [3] p. : il. ; 26 cm. ISBN 978-989-8140-20-3 Disponível em https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/36263112/AS_FRONTEIRAS_LUSO_ESPANHOLAS_DAS_QUEST_ES_DE_SOBERANIA_AOS_FATORES_DE_UNI_O.pdf

COSTA, João Paulo Oliveira e – O cavaleiro de Olivença : romance histórico. Rev. Pedro Ernesto Ferreira. 2ª ed. [Lisboa] : Temas e Debates, cop. 2012. 548, [2] p. : il. ; 24 cm. ISBN 978-989-644-184-5

Direção-Geral do Património Cultural. (n.d.). Ponte de Nossa Senhora da Ajuda. SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico. Recuperado em [16 de setembro 2024], de http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3241

FITAS, Ana Paula – Olivença e Juromenha : uma história por contar. 1ª ed. Lisboa : Colibri, 2007. 387, [1] p., [16] p. il. : il. ; 23 cm. (Extra-colecção). Bibliografia, p. 367-387. ISBN 978-972-772-730-8

PEDREIRA, Jorge Miguel ; COSTA, Fernando Dores – D. João VI : o clemente. Coord. cient. Artur Teodoro de Matos, João Paulo Oliveira e Costa; colab. Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa. 6ª ed., reimp. [Lisboa] : Círculo de Leitores, 2014. 360 p., [16] p. il. : il. ; 25 cm. (Reis de Portugal. 4ª Dinastia ; 27). Bibliografia, p. 343-348. ISBN 978-972-42-3900-2

Porto Editora – Ponte da Ajuda na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-09-16 15:41:32]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$ponte-da-ajuda

Olivença na história. Org., coord. Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. 2ª ed. Lisboa : Assembleia da República, 2023. 388 p. : il. ; 25 cm. ISBN 978-972-556-784-5

Olivença : 1801 : Portugal em guerra do Guadiana ao Paraguai / Manuel Amaral. – Lisboa : Tribuna da História, 2004. – 112 p a 2 colns : il. ; 27 cm. – (Batalhas de Portugal). – Bibliografia, p. 111. – ISBN 972-8799-19-5

OLIVEIRA, José Fernando Reis de – A ponte velha da Ajuda : uma ruína, entre Elvas e Olivença. [S.l. : s.n], 2012 ([Loures] : Vigaprintes). 159 p. : il. ; 30 cm. Bibliografia, p. 139-153

OLIVEIRA, Humberto Nuno de – Crer e querer para vencer : 75 anos a servir Portugal : os orgãos sociais do “Grupo dos Amigos de Olivença”. Lisboa : Grupo dos Amigos de Olivença, 2021. 148 p. : il. ; 22 cm. ISBN 978-1-105-83437-0

VENTURA, António – A Guerra das Laranjas : a perda de Olivença 1796-1801. Lisboa : Prefácio, 2004. 159 p. : il. ; 27 cm. (História militar. Batalhas e campanhas). Bibliografia, p. 157-159. ISBN 972-8816-26-X

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💻  Texto: Rafael Oliveira 🌎 Fotografia: Oliraf Fotografia 📷

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4 thoughts on “📌 À descoberta da Ponte da Ajuda: um belo exemplar da arquitetura civil manuelina…

  1. Excelente artigo mas queria fazer um reparo “aluviões” é feminino. Erro muito comum, não se preocupe. Um abraço

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