📝 Viajar em Espanha é cada vez mais sinónimo de visitar duas cidades: Madrid ou Barcelona. É um “crime” ainda não termos visitado estas fascinantes cidades espanholas, dizem-me alguns amigos. Basta, abrir uma página web, uma imagem ou um guia de viagens para perceber a importância de não termos caído em tentação. Eu não gosto de ir aos locais turísticos ditos “obrigatórios”. Ainda não me sinto preparado e não tenho a mencionada “pressão de ir”. De facto, pela minha experiência académica, profissional e pessoal, o Reino de Espanha tem dezenas de cidades e vilas que são merecedoras de uma visita sem pressa e para apreciar o que as rodeia. Alburquerque foi a primeira incursão em terra de “nuestros hermanos”.
Porquê a escolha da (des)conhecida vila de Alburquerque?
São muitos, e todos eles merecedores de atenção, os “Castillos” existentes ao longo da fronteira luso-espanhola, bem como em todo o Reino de Espanha. Há centenas deles. Isto se acrescentarmos também as fortalezas que entretanto se fundiram no seio da arquitectura militar medieval, nomeadamente Ciudad Rodrigo, Badajoz, entre outras.

De Lisboa a Albuquerque são cerca de 270 quilómetros. De Marvão, cerca de 70 km. A vila de Alburquerque está entre a cidade de Badajoz e a vila de Valência de Alcântara, bem no centro da antiga província romana da Lusitânia, na actual comunidade autónoma espanhola da Extremadura. Não vem nos roteiros turísticos ou guias de viagem tradicionais, como a cidade de Badajoz, mas não precisava de tal distinção para merecer uma visita. É aqui que encontramos um dos mais imponentes – e bem preservados – “Castillos” da região e de toda Espanha (segundo o guia que nos fez a visita guiada gratuita ao recinto), mas a riqueza não é apenas histórica e arquitectónica,mas também paisagística. Dentro do seu pequeno, mas acolhedor, centro histórico e do recinto muralhado começamos logo por descobrir histórias, pedras e símbolos familiares, de origem portuguesa.

Após uma transição serena da planície alentejana e da Serra de São Mamede, deparo-me ao longo do meu roteiro solitário pelo Alto Alentejo com a sinalética da estradas. Indica-nos que já estamos em Espanha. Nesta aventura de aprendiz de historiador, fotógrafo e viajante andarilho, citando Orlando Ribeiro, apercebo-me que a paisagem, a ocupação humana e a gastronomia é a mesma. Só a língua não. As pitorescas vilas de La Codosera e Valência de Alcântara prende-me o olhar, todavia não me despertam a minha curiosidade fotográfica. Talvez, porque não era esse o objectivo desta incursão à tierra de nuestros hermanos. Alburquerque era o objectivo.

Aventurei-me por esta vila histórica da raia luso-espanhola, com quase seis mil habitantes (2014), localizada nas proximidades da Sierra de San Pedro. Sem recurso a mapas da vila, uma vez que o Posto do Turismo estava fechado (a famosa siesta de nuestros hermanos), aproveitei para “mergulhar” em pleno coração medieval da Vila de Alburquerque, onde, no alto de um monte rochoso, ergue-se o imponente Castillo de Luna. A vida quotidiana, nestas pitorescas vilas, apesar de ficar tão perto da nossa fronteira é completamente diferente do que se vive em Portugal. Durante o percurso pedonal no centro histórico e nos arrabaldes da vila, apercebo-me da importância histórico-militar desta localidade fronteiriça. De facto, o Castillo de Luna revela a razão da sua existência: praça fortificada para as constantes guerras, querelas politicas e escaramuças travadas ao longo da História entre o Reino de Portugal e de Castela e Leão (posteriormente Reino de Espanha).

Um pouco de História…
O Castelo Medieval de Alburquerque foi erguido entre os séculos XIII e XV, tomando a denominação de Castillo de Luna, em virtude de Álvaro de Luna, Mestre da Ordem Militar de Santiago e Condestável do Reino de Castela e Leão, ter residido uma parte da sua vida neste “guerreiro de pedra”. Esta localidade está próxima da fronteira de Portugal, entre Valencia de Alcántara e Badajoz, sendo um aliciante local de poder bélico e estratégico ao longo da história. Em 1166, Fernando II de Castela e Leão concede-o à Ordem de Santiago. Em 1184, as forças muçulmanas recuperam o Castelo. Todavia, em 1217, a localidade e o castelo voltavam, de vez, para as mãos dos cristãos.

Durante a visita ao interior do Castelo de Alburquerque (Castillo de Luna) deparei-me com a razão da sua importância estratégica: “vigilante” da fronteira luso-espanhola. Nunca pensei que tivesse tanta presença lusitana nestas pedras. Vejamos, D. Afonso de Sanches, filho bastardo de D.Dinis foi o primeiro Senhor deste Castelo (andava chateado com o maninho D.Afonso IV). Inês de Castro esteve aqui, enquanto D.Pedro I estava em Ouguela. Em 1580, Alburquerque teve um papel crucial na conquista de Portugal, visto que uma parte do grosso das forças terrestres de Filipe II de Espanha invadiu Portugal por estas latittudes. Durante a Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714), a praça-forte era uma ambição antiga da Coroa Portuguesa e uma das localidades raianas da Extremadura Espanhola e Galiza – Albuquerque, Badajoz, Baiona, La Guardia, Tui, Valença de Alcântara e Vigor – reivindicadas por D. Pedro II para aderir à causa do arquiduque Carlos da Áustria, futuro Carlos III, contra o duque de Anjou, futuro Felipe V de Bourbon. Entre 1705 e 1715, esta praça-fortificada esteve nas mãos das tropas portugueses, sendo devolvida a Espanha, com o Tratado de Utrecht (11713-715)Ainda hoje, à entrada do Castelo, podemos ver os baluartes em estilo Vauban feito pela guarnição e engenheiros militares portugueses. Mais tarde, durante a Guerra de Independência Espanhola (1808-1814), foi saqueado pelo temido Grande Armeé de Napoleão Bonaparte, após a defesa heróica da população local. Com a “fratricida”Guerra Civil Espanhola, este Monumento Nacional (1924) foi parcialmente destruído e recuperado anos mais tarde. De facto, o Castillo de Alburquerque é um conjunto de pedras com muitas estórias da História…

Este “Castillo” vale pela paisagem que domina e pelo seu interior. Na minha opinião, um dos mais belos e bem conservados castelos de “Nuestros Hermanos”. Sim,porque, os Espanhóis não brincam em serviço quando se trata de proteger e promover o seu património histórico-cultural. Recomendo a visita ao interior da Torre de Menagem, a vista panorâmica para Portugal (Campo Maior e Marvão) e as animações turísticas para os jovens “guerreiros”, organizados por um grupo de jovens locais.
Testemunhos e pequenas testemunhas de uma longa História Secular. Marca e marcos da nossa memória e identidade. Portugal e Espanha são duas faces diferentes de uma mesma moeda: a Península Ibérica, citando uma obra de José Saramago “A Jangada de Pedra“. Em breve irei disponibilizar mais roteiros, artigos, dicas e fotografias de viagem no Reino de Espanha. Para já podem “deliciar-se” com as da pitoresca vila fronteiriça de Alburquerque.
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✈ Como chegar:
Estremoz-Albuquerque-Marvão
Se já se encontra na cidade de Estremoz (IP2) tome a direção de Arronches/Monforte, pela N369, até à fronteira de Espanha (Aldeia da Esperança); Em Espanha opte pela estrada BAV-5004 em direção a La Codosera e depois pela BA-008 e EX-110 que vai dar a Albuquerque. De Albuquerque a Valencia de Alcântara seguir pela EX-110. De Valencia Alcântara até Marvão seguir pela N-521 e, em Portugal, por N246-1 e depois virar para a N359 (Beirã/Marvão).
🍜 Onde comer:
Neste particular, a minha recomendação vai para o restaurante El Fogon de Santa Maria, situado entre o Castillo de Luna e da Igreja de Santa Maria do Castillo, em pleno coração medieval da vila de Alburquerque. O gazpacho é uma excelente escolha para dias quentes. Já a sobremesa…divinal. Para além da paisagem e do património, a gastronomia da extremadura espanhola conquistou-me pelo paladar.
🏠 Onde ficar:

A Train Spot Guesthouse é uma unidade de Turismo em Espaço Rural, localizada na aldeia da Beirã (Marvão), no concelho do Alto Alentejo. Trata-se de um bom exemplo da recuperação do património edificado ferroviário do séc. XIX. A antiga estação ferroviária de Marvão/Beirã era a “porta de saída” para a Espanha (Ramal de Cáceres). Classificada cmo imóvel de interesse público, ainda hoje, esta antiga estação da Linha do Leste conta com fantásticos azulejos que ilustram as mais belas cenas quotidianas, património monumental e as tradições da região do Alentejo e de Portugal Pernoite aqui, envolvido pela exuberante fauna e flora do Parque Natural da Sera de S.Mamede, e faça a sugestiva experiência aventureira de percorrer uma antigo ramal ferroviário, entre as estações de Marvão-Beirã e Castelo de Vide, entregue ao tempo, com a Rail Bike Marvão.
7330-012 Beirã – Marvão
🔗Para mais informações:
Aqui poderá encontrar, por exemplo, extensa documentação e dicas sobre o património material e imaterial nos seguintes links:
Roteiro Fotográfico pelo Alto Alentejo (OLIRAF)
Portal oficial de Turismo de Espanha
Official site of Extremadura Tourist Department (Spain)
Spainisculture.com (Alburquerque)
- HORARIO
- Turnos de visita
INVIERNO (de noviembre a mayo)
De lunes a domingo y festivos:
Mañana: 11:00 h, 12:00 h y 13:00 h
Tarde: 16:00 h y 17:00 h
VERANO (de junio a octubre)
De lunes a domingo y festivos:
Mañana: 11:00 h, 12:00 h y 13:00 h
Tarde: 17:00 h y 18:00 h
Para grupos es necesario realizar reserva previa en la oficina de turismo.
- TARIFA
- Gratuito.
- Persona de contacto: Oficina Turismo de Alburquerque
- Tel.:924 40 12 02
- Correo: turismo@alburquerque.es
- Sitio web: www.alburquerque.es
Nota importante [👤]
As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.
💻 Texto: Rafael Oliveira 📷 Fotografia: Oliraf Fotografia 🌎
Follow me: @oliraffotografia on Instagram | Oliraf Fotografia on Facebook
Acabei de ” viajar ” através deste artigo pela e desde agora conhecida vila de Alburquerque. Roteiro através da historia aliado ao gosto pela fotografi@. Complemento ideal… Não Pares!!! « tanto se pensas que podes como se pensas que não podes, estas no caminho certo»
Agradeço o feedback. Espero que a motive a visitar esta pacata terra extremanha.
He viajado con tu artículo por la “desconocida” Alburquerque y me he vuelto a ver a mi misma pasear por sus calles, muy bonita la manera en la que describes el tesoro que guarda esta villa y que sorprende a todo aquel que se atreve a mirar más allá de las guías turísticas. Te recomiendo que amplíes tu paseo por la también “desconocida” región extremeña, puedo asegurarte que no te dejará indiferente esta región fronteriza, ya sabes aquello de “tan lejos pero tan cerca”, “hermanos”, “diferentes pero iguales”,….
Enhorabuena por tu artículo y por dar a conocer esos sitios que guardan esos pequeños (grandes) detalles.
Muchas Gracias pelo Feedback, Amiga @Desde_Estremadura
BOA TARDE TALVEZ UM DIA EU POSSA CONHECER A VILA ALBUQUERQUE, SOU BRASILEIRA E PROVAVELMENTE DEVO SER DESCENTE DOS ALBUQUERQUES , POIS MEU PAI SE CHAMAVA: LAFAIETE VIEIRA DE ALBUQUERQUE , NOME DOS MEUS AVÓS PATERNOS: JOSE VIEIRA DE ALBUQUERQUE E OTILIA VIEIRA DE ALBUQUERQUE. ACHEI LINDO AS FOTOS , DESDE JÁ OBRIGADA ATT, MARCIA SAN’ANNA
Obrigada pelo feedback. Tente fazer uma pesquisa geneológica no Arquivo Distrital de origem dos seus familiares em Portugal. Ou a Torre do Tombo.
Em relação à localidade, a vila de Alburquerque é uma boa surpresa.