📌À descoberta da Ilha da Berlenga…
Poucas ocasiões oferecem tantas oportunidades fotográficas como as férias de Verão. Como tal, decidi fazer algo diferente no longínquo Verão de 2015: um voluntariado num Projecto de várias instituições nacionais e europeias. O Voluntariado é,na minha opinião,uma das inúmeras formas de viajar, onde podemos enriquecer o nosso currículo académico,profissional e pessoal. E,claro, ajudar o próximo. Importa salientar que nas minhas deslocações, há sempre um motivo fotográfico, como tal, tirei uma semana para fazer uma escapadela fotográfica a uma das reservas naturais de Portugal, classificada como Reserva da Biosfera da UNESCO (2011).
Sempre tive curiosidade em ir à Ilha da Berlenga. Durante os Verões de infância e adolescência que contemplava a Ilha da Berlenga, desde Santa Cruz (Concelho de Torres Vedras). Dizia para mim: um dia irei lá. Sabia que eram umas ilhas ao largo de Peniche e, confesso, que sempre despertaram grande interesse. Já lá queria ter ido há algum tempo. Assim como quero ir aos Açores. Decidi-me de uma vez por todas a cumprir um desejo antigo.

Esqueçamos os barcos apinhados de turistas que cruzam o istmo de Peniche e a Ilha da Berlenga. Aventura que é aventura, tem de ter um meio de transporte alternativo. Ora, para atingir a Ilha da Berlenga, onde me esperava uma semana intensa e entusiasmante, tive o privilégio de viajar no “Berlenga”. Assim, de onda em onda vencemos esta pequena “epopeia marítima”. De realçar, que o Berlenga é um antigo pesqueiro adaptado pela Marinha Portuguesa para a rendição dos faroleiros entre a Nazaré e a Ilha da Berlenga. Foi assim que partimos para a nossa aventura rumo à Berlenga.

Ao longo da viagem para a Ilha da Berlenga podemos observar a fauna, o património e o quadro físico da Costa Atlântica da Peninsula de Peniche. Na saída do Porto de Peniche podemos contemplar um dos principais complexos portuários de Pesca da Costa Portuguesa e as suas respectivas embarcações, bem como a Fortaleza de Peniche, o Cabo Carvoeiro, entre outros locais de interesses. Estes foram os que me despertaram especial atenção. O oceano atlântico, ao largo do cabo Carvoeiro, apresenta-se quase sempre agitado, difícil para os navegantes, pescadores e turistas que se aventuram, por exemplo, numa ida ao Arquipélago das Berlengas.
Localização
O arquipélago das Berlengas é constituído por um conjunto de ilhéus (a Berlenga Grande, as Estelas e os Farilhões) e situa‑se no litoral ocidental português, a cerca de 10 km da península de Peniche. Pertence administrativamente ao concelho de Peniche, distrito de Leiria. A Berlenga Grande é a maior ilha do arquipélago, com uma extensão de 80 hectares. Trata-se de uma Ilha de massa granítica e a única que pode ser visitável entre a Primavera e o Verão. De referir que a Reserva Natural das Berlengas compreende uma área muito vasta de reserva marinha situada na envolvente do arquipélago.

A Berlenga Grande, geomorfologicamente, apresenta a forma de um planalto no topo, sendo a sua costa de difícil acesso e constituída por arribas. Na costa Sudeste, existem diversas enseadas que constituem abrigos naturais (Grutas), por vezes coincidindo com a presença de pequenas praias. A travessia marítima para a ilha nem sempre é fácil, especialmente no Inverno, bem como a acostagem de embarcações.

Para além das atrações patrimoniais e paisagísticas desta ilha atlântica, a Fauna e a Flora são únicas no mundo, isto é, espécies endémicas, devido à sua localização geográfica (Ilha, isolamento e meio ambiente singular). Assim, podemos encontrar algumas espécies marinhas e terrestres como, por exemplo, Corvos-marinhos, airo, pardelas, gaivota-de-pata-amarela, a largatixa de Bocage, entre outros. Salienta-se a existência da maior colónia de nidificação para a avifauna marinha (neste caso, as Pardelas) e ponto de passagem para um grande número de aves migradoras. Se dormir na ilha à noite poderá escutar o canto típico das Cagarras/Pardelas.



O Arquipélago das Berlengas ao longo da História…
Situada numa região de intenso tráfego marítimo, o arquipélago das Berlengas sempre foi um local apelativo e ao mesmo tempo perigoso para a navegação. De facto, a ocupação humana da Ilha da Berlenga tem mais de dois mil anos como comprova a investigação arqueológica levada a cabo por Jacinta Bugalhão e Susana Lourenço.Comprovou-se, segundo o estudo citado anteriormente, que a Ilha da Berlenga era utilizada como fundeadouro para embarcações comerciais de médio e longo curso, nomeadamente aquelas que percorriam as rotas de ligação entre o Mediterrâneo e os territórios romanos atlânticos.
A ilha da Berlenga Grande, ao largo da costa de Peniche, foi ocupada na primeira década do Século XVI, por uma comunidade de monges Jerónimos que ali fundará o Mosteiro da Misericórdia da Berlenga, em 1502, para auxiliar os náufragos, por ordem do Venturoso, el-rei D.Manuel I (1495-1521). Em virtude do isolamento, este arquipélago foi um refúgio de corsários e piratas, que assolavam a costa portuguesa, o que levou a comunidade monástica a abandonar a Ilha pelos constantes ataques. Mais tarde, no Século XVII, o monarca D.João IV (1640-1654) mandou edificar de uma fortaleza para complementar a defesa da costa e da cidadela de Peniche. Assim, sobre um ilhéu junto à enseada da Ilha foi construído o Forte de São João Batista

Um dos mais conhecidos episódios desta Fortaleza nos anais da História de Portugal foi ataque da armada espanhola, comandada pelo almirante castelhano Diogo Ibarra que tinha por objetivo raptar a rainha D. Maria Francisca de Saboia na sua chegada a Portugal, à época do seu casamento com D. Afonso VI. Logrado o objectivo principal, em Junho de 1666, a armada espanhola decidiu atacar esta fortificação, tendo bombardeado durante dois dias, acabando o forte por ser tomado pelos castelhanos, após uma operação de desembarque anfíbio. A guarnição portuguesa, cerca de trinta soldados e oficiais, era comandada pelo Cabo Avelar Pessoa,que se notabilizou nesta Batalha, foram capturados e levados para Espanha.
Durante as Invasões Francesas, o forte serviu de base para a Royal Navy para o patrulhamento e assédio à cidadela de Peniche, tendo sido posteriormente pilhada pelos franceses. No decorrer das lutas entre liberais e absolutistas (1828-1834) foi utilizada de base às tropas de D. Pedro IV para a conquista da fortaleza de Peniche, ocupada por forças miguelistas. Na 2ªMetade do Século XIX, esta fortificação acabou por ser abandonada. Já na década de 50 do séc. XX, a Fortaleza de São João Baptista foi restaurada pela então Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais para uma posterior adaptação do espaço a pousada, servindo de abrigo a quem aí deseje pernoitar. Aliás, são estas as funções que hoje apresenta.
O farol Duque de Bragança, conhecido como farol da Berlenga, está instalado no planalto da Berlenga Grande, antes do acesso ao Trilho do Forte, no ponto mais alto da ilha. Entrou em funcionamento em 1842 durante o reinado de D. Maria II (1836-1853). Inicialmente, era alimentado por combustíveis naturais e fósseis (primeiro azeite e depois petróleo), sendo posteriormente electrificado em 1926. Desde 2000 e juntamente com as residências anexas funciona com energia solar. A torre tem uma altura máxima de 29 m e ainda mantém a presença de faroleiros, bem como dos respectivos vigilantes de apoio à reserva natural. Quando a energia eléctrica é desligada pelas 23h, a única luz que ilumina a Ilha provém deste Farol.
O Bairro de Pescadores ou Bairro Comandante Andrade e Silva (1991) foi edificado na década de 40 do Século XX pelo Capitão do Porto de Peniche, António de Andrade e Silva, para albergar a comunidade piscatória da Berlenga. Ainda hoje tem estas funções sociais,mas com o advento do turismo muitas delas foram ocupadas e frequentadas por veraneantes.
Trilhos e Percursos pedestres…
O carreiro dos Cações e o carreiro do Mosteiro quase separam a ilha da Berlenga em dois ( em virtude de uma uma falha geológica), a ilha Velha e a Berlenga. Existem dois trilhos que permitem visitar cada um destes lados da ilha. A circulação fora destes trilhos é proibida para proteger e conservar a frágil fauna e flora desta ilha atlântica. O Ponto de partida e chegada é o cais junto ao Bairro dos Pescadores, tem uma extensão aproximada de 2 km e uma duração de uma hora. O grau de dificuldade é fácil, mas a subida para o Farol e descida do Forte apresentam alguma dificuldade.

Trilho da Ilha Velha…
Este percurso pedestre permite observar o coberto vegetal e as espécies da avifauna patentes na Ilha da Berlenga. Ao longo deste, podemos observar paisagens fantásticas, com penhascos íngremes, tendo como pano de fundo o oceano.


Trilho da Berlenga…
Este trilho pedestre permite aceder ao património histórico construído da Ilha da Berlenga, nomeadamente o forte de São João Baptista e ao Farol Duque de Bragança. O trilho de acesso ao forte apresenta dificuldade elevada, pelo seu acentuado desnível. Aconselha-se a levar calçado apropriado às condições do terreno.


Para visitar as grutas das Berlengas, são 5€ por pessoa, dependendo da companhia marítimo-turística que detenha o barco. Já a visita ao Forte é gratuita.
➡️ BERLENGAS-PASS | REGISTO OBRIGATÓRIO ⬅️
A plataforma BerlengasPass permite-lhe agendar a sua visita ao Arquipélago das Berlengas.
É obrigatório, desde 1 de Junho de 2022, registar-se online e a pagar a taxa turística que permite conhecer a Ilha da Berlenga, ao largo de Peniche, em segurança. A licença poderá ser obtida na plataforma Berlengas-Pass, bem como o pagamento da taxa de acesso e permanência na ilha.
TRANSPORTE
O acesso terrestre à ilha da Berlenga está condicionado pela sua capacidade de carga, estipulada em 550 visitantes/dia (através da Portaria n.º 355/2019, de 22 de maio) a permanecer em simultâneo na área terrestre da ilha da Berlenga, minimizando os efeitos da visitação sobre os habitats e as espécies em presença. Em virtude deste facto, o Ministério do Ambiente decretou, a partir de Abril de 2022, a cobrança de uma taxa diária para os turistas que queiram conhecer a Ilha da Berlenga. A taxa turística tem um custo de três euros por dia e por pessoa e dá acesso à área terrestre da ilha da Berlenga (Portaria n.º 19/2022, de 5 de janeiro, Diário da República). Os visitantes maiores de 6 anos e menores de 18 anos e os visitantes a partir de 65 anos pagam 50 % do valor da taxa, ou seja, 1,5 €. Os habitantes da Ilha (e trabalhadores) e de Peniche estão isentos.

A ilha da Berlenga é um dos mais conhecidos destinos turísticos na região Oeste de Portugal durante a época de Verão. De facto, a visita a esta Ilha vale pela viagem, a vista de Peniche/Cabo Carvoeiro, a visita as Grutas e pela visita ao Forte da Berlenga, por exemplo. Foi das melhores experiências vividas que já fiz e está tão perto da costa Portuguesa que merecia um maior interesse pelos nossos concidadãos. Todavia, não recomendo visitar no “Querido Mês de Agosto”, em virtude de ser muito solicitada pelos turistas portugueses e estrangeiros.
A Gastronomia e a experiência da viagem. A História e as paisagens. Os Pescadores e os Faroleiros. Convido-vos a irem lá, confirmar o quanto é maravilhoso este local. Mas, sobretudo, aproveitem para acampar ou alugar uma casa para “saborear” e sentirem o verdadeiro espírito da Berlenga. Não se esqueça de levar comprimidos para o enjoo durante a viagem. Depois, não digam que avisei.
Durante a minha estadia na Ilha, repetia esta frase: Estou na Ilha da Berlenga. Era uma constatação intensa. Senti-a muitas vezes quando olhava,do topo do Farol Duque de Bragança, os barcos apinhados de turistas rumo ao Continente (Peniche). Ali, foi onde senti estas palavras de forma mais libertadora. Havia uma estranha serenidade a “entranhar-me” a alma.
Se gosta de fotografia, vai ficar encantado com o cenário, sobretudo antes do sol se pôr, mas evite viver a experiência somente através da objectiva da sua câmara fotográfica ou do ecrã do telemóvel. Há que sair da nossa zona de conforto. E descobrir o nosso “true self”. De facto, há lugares que incentivam as nossas capacidades técnicas, criativas e naturais do verdadeiro fotógrafo-viajante dentro de cada um de nós.
Para mais aventuras fotográficas, pode encontrar-me nas redes sociais em OLIRAF FOTOGRAFIA .
Viaje,mas devagar. E Aventure-se na região Oeste!
Bibliografia
ALVES, F. et al (1989) Os cepos de âncora em chumbo descobertos em águas portuguesas – contribuição para uma reflexão sobre a navegação ao longo da costa atlântica da Península Ibérica na Antiguidade. In O Arqueólogo Português, série IV. Vol. 6/7.
ALVES, F. (1994) Os dois cepos de âncora em chumbo pré-romanos da ilha Berlenga. Relatório. Lisboa: Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática
BANDEIRA, L. (1984) “Berço Manuelino” recuperado ao largo das Berlengas. In Série Arqueológica, vol. 1, Museu do Mar. Cascais: Câmara Municipal de Cascais.
BUGALHÃO, J. & LOURENÇO, S. (2001) Ilha da Berlenga, Bairro dos Pescadores: relatório dos trabalhos arqueológicos. Relatório interno. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia
DIOGO, A. (1999) Ânforas provenientes de achados marítimos na costa portuguesa. In Revista Portuguesa de Arqueologia, 2:1. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
FERREIRO LOPEZ, M. (1988) La campaña militar de Cesar en el año 61. In MENAUT, G. ed., Actas del 1º Congreso Peninsular de Historia Antigua. Santiago de Compostela: Universidad de Santiago de Compostela.
SANTOS, J. (1994) As Berlengas e os Piratas. Lisboa: Academia de Marinha
TRINDADE, J. (1985) Memórias Históricas. Lisboa: INCM/Câmara Municipal de Óbidos.
Webgrafia
Natural.pt | Câmara Municipal de Peniche – Ilha da Berlenga | Visit Portugal
Monumentos Berlengas Turismo do Centro |
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💻 Texto: Rafael Oliveira 📷 Fotografia: Oliraf Fotografia 🌎
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Rafael, excelente texto! Tenho muita vontade de conhecer esta ilha.
Algumas fotos não estão abrindo.
Julio,
Antes de mais, agradeço o seu feedback. De facto, as Berlengas são (des)conhecidas pelos portugueses e para muitos estrangeiros. Mas, isso já começa a mudar. Aconselho a ir um dia para visitar a Ilha ou realizar um baptismo de mergulho nas suas águas maravilhosas e ricas em biodiversidade.
E parabéns pelo seu blog de viagem. Gostei imenso.
Atentamente,
Rafael Oliveira