📷 “Atreva-se e mude o seu destino, onde mudamos o de Napoleão!” é o mote da Rota Histórica das Linhas de Torres para visitar e relembrar o mais barato, rápido e eficiente sistema defensivo da História Militar. Seduzidos pela história e pelo impacto da paisagem envolvente, vamos conhecer o Forte de São Vicente e o reduto de Olheiros, obras militares que integravam a 1ª Linha. Este sistema defensivo, construído entre 1809 e 1810, no contexto da III Invasão Francesa (1810-11), é demonstrativo da capacidade técnico-militar luso-britânica e da resiliência do povo português em manter a sua Liberdade, face a uma das mais temidas forças bélicas da História Militar: o Grande Armée de Napoleão! Uma História feita de Fortes. E de vistas Fortes!
As Linhas de Torres Vedras foram mandadas construir, entre 1809 e 1810, por Sir Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington, comandante do exército luso-britânico, com o intuito de travar as sucessivas incursões bélicas do exército de Napoleão Bonaparte e de proteger o acesso à cidade de Lisboa. Esta decisão ocorreu após o fim da retirada das tropas tricolores (II Invasão francesa), comandada pelo marechal Soult. Consistia num sistema defensivo fortificado com um conjunto de fortes e redutos em pontos estrategicamente colocados no topo de colinas/cumes da região da Península de Lisboa. Eram constituídas por três linhas defensivas, entre o oceano Atlântico e o rio Tejo (85 km de extensão), totalizando 152 obras militares, armadas com 600 peças de artilharia e defendidas por uma força – 140 000 homens – mista de tropas de linha e de guarnição. A maioria das bocas de fogo e o material de sapadores foram fabricadas em Arsenais Portugueses. As obras militares só foram finalizadas em 1812, após a definitiva expulsão do Grande Armée do Reino de Portugal.
As designadas Linhas de Torres travaram, após a Batalha do Buçaco (1810), o avanço vitorioso das 65 mil tropas francesas do general Massena, comandante enviado por Napoleão para liderar a III Invasão (1810-1811). Era o principio do fim da supremacia militar do Império Napoleónico. O Reino de Portugal, e os portugueses, foram maniatados e subjugados pela França e pela Inglaterra, as duas superpotências de inícios do século XIX, para disputar a hegemonia europeia e a manutenção dos equilíbrios europeus.
💣Forte e Capela de São Vicente (Obra militar nº 20, 21 e 22)
Construído em 1809, no Monte de São Vicente (a 118 m de altitude). o Forte de São Vicente é um vasto complexo fortificado constituído por três redutos abaluartados, com uma praça de armas protegida por longos travezes, reparos, muros em talude, canhoeiras, rodeado de fossos profundos, com revestimento de pedra. Tem planta em Y, e era composto por um conjunto de trincheiras, fossos, traveses, paióis, e estava artilhado para uma capacidade de 39 bocas de fogo. Estava dotado com 3 paióis, de planta circular. Era considerado o mais importante forte das Linhas de Torres, mas perdia em dimensão para o forte ou reduto grande do Sobral. Tinha capacidade para uma guarnição militar de 2000 a 2200 soldados. Era a fortificação e o ponto mais a norte, da 1ª Linha de defesa, entre a localidade de Alhandra e a foz do rio Sisandro, que defendia a estrada real entre Coimbra e Lisboa. Encontra-se atualmente em bom estado de conservação. Foi finalizado em 1810.

Trata-se de um dos melhores pontos paisagísticos para admirar o complexo, pontificado e continuo sistema defensivo erguido a norte da península de Lisboa. São um excelente exemplo da articulação entre o Homem e o Meio. De facto, a construção das mesmas reflete o estudo do Meio pelo Homem, isto é, o aproveitamento da morfologia do terreno para retardar o avanço, pela estrada e atravessamento dos rios, das tropas napoleónicas que se dirigiam a Lisboa. E sem recurso a tecnologia, por exemplo, o uso de fotografia aérea para estudar o terreno. Quem contempla a paisagem envolvente ao monte de S. Vicente percebe a importância e o significado desta fantástica obra de engenharia militar!

Um dos três redutos deste forte – obra militar Nº 21 estava equipado com um posto de sinais / telégrafo que comunicava com o principal posto de difusão das comunicações das Linhas de Torres: a Serra do Socorro. No CILT (Torres Vedras) podemos ver uma maqueta – Telégrafo de Balões – com este dispositivo de telegrafia visual inspirado no sistema de comunicações da marinha de guerra britânica (Royal Navy). Trata-se de um bom exemplo da importância da comunicação e da passagem rápida de informações entre os inúmeros fortes e redutos, que estavam na 1ª e 2ª Linha do sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras, sobre o constante movimento de tropas francesas.

Durante a Guerra da Patuleia (1846-1847), o forte de São Vicente foi alvo de um confronto bélico entre as tropas insurretas do conde do Bonfim, membro da junta revolucionária do Porto, e das tropas governamentais do marechal Saldanha, apoiadas pela Rainha D.Maria II, para o controlo de Lisboa. Aliás, foi único confronto bélico da sua curta existência desta obra militar das Guerras Peninsulares. O controlo militar da vila de Torres Vedras e dos fortes da Península de Lisboa eram vitais para dominar, militarmente, a capital do Reino de Portugal. Esta estratégia foi abandonada e tornou-se irrelevante na última metade do século XIX (Campo Entrincheirado de Lisboa) e, principalmente, na segunda metade do século XX (Plano Barrow). As tropas “patuleias” do conde das Antas decidiram escolher Torres Vedras para aguardar pelo confronto decisivo com as tropas governamentais, antes de avançar para ocupar Lisboa, visto que esta localidade tinha aderido à insurreição da “Patuleia”. As tropas do conde de Bonfim, sem apoio logístico e militar do conde das Antas, foram facilmente vencidas pelas tropas governamentais do marechal Saldanha, apesar da enorme vantagem de bocas-de-fogo dos derrotados.
O Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT), do concelho de Torres Vedras, fica localizado na antiga capela do Forte de S. Vicente, inaugurado no Verão de 2017. No interior, o visitante poderá compreender a importância das Linhas de Torres na vitória do exército luso-britânico sobre as tropas francesas de Napoleão Bonaparte, com a exibição de um documentário para enquadramento histórico da época. Existe uma maqueta de um posto de telegrafia da época das Linhas de Torres e de um circuito expositivo recheado de recursos audiovisuais e multimédia, mapas, gravuras e peças museológicas alusivas à época das Invasões Francesas, com foco particular, na terceira invasão ao território português, comandada pelo general Massena, o exílio da população (devido à imposição da política de terra queimada) e a construção deste sistema defensivo no concelho de Torres Vedras.
💣Reduto de Olheiros (Obra militar nº23)
O Forte ou reduto de Olheiros, também conhecido como Forte do Canudo, em virtude da sua localização geográfica e topográfica: o Monte do Canudo. A sua utilização inicial era prestar apoio ao fronteiro Forte de São Vicente, protegendo o lado poente da vila e do vale de Torres Vedras. Foi concebido para uma guarnição de 180 soldados e estava equipada com onze canhoeiras nas cortinas. Segundo o capitão britânico J. T. Jones, estas estavam guarnecidas com 7 bocas de fogo, 4 peças de calibre 9 e 3 peças de calibre 6. No centro, coberto de laje de betão armado, encontra-se um paiol de pólvora e de munições.

Em 2001, com apoio da Escola Prática de Infantaria, o município de Torres Vedras realiza uma campanha de limpeza completa e um diagnóstico do estado de conservação da obra militar. Mais tarde, em 2011, sofreu obras de restauro que incluíram a consolidação da sua estrutura-militar, nomeadamente, desobstrução/reconstrução do fosso e das canhoeiras, reconstituição das estruturas em terra (travezes e reparos), desmatação e abate de árvores de grande porte e a recuperação do paiol de pólvora.

As Linhas de Torres são o mais internacional dos monumentos militar portugueses. É um monumento que perdeu o seu valor militar, mas adquiriu um valor histórico que importa preservar e divulgar para as gerações vindouras. A forma e a rapidez, por mais de 150 mil portugueses e britânicos, revela bem a importância e o sacrifício de um povo pela manutenção da independência nacional e, não mais importante, da sua Liberdade.
Não deixe de fazer…
- conhecer o Museu Municipal Leonel Trindade e o CILT de Torres Vedras;
- explorar os encantos e recantos do património do centro histórico de Torres Vedras;
- percorrer o património da Linha do Oeste: Estação de Runa;
- provar a doçaria local: o famoso pastel de feijão da Serra da Vila;
- assistir as recriações históricas do festival das Novas Invasões;
- caminhar pelos trilhos e jardins das antigas Termas dos Cucos;
- conhecer os areais dourados de Santa Cruz e provar uma sapateira em Porto Novo;
- petiscar, no Parque Verde da Várzea, o famoso Beef de Wellington no Roots Restaurante;
- participar na caminha anual da Marcha dos Fortes;
- aventurar-se num passeio pelas colinas e serras de Jipe UMM, com as Rotas do Oeste;
- conhecer o Convento de Santo António do Varatojo;
- fazer uma prova de vinhos na Adega Cooperativa da Carvoeira;
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✈ Como chegar:
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- Lisboa a Torres Vedras: pela A8 tomar a direção de Leiria até à saída 7 – Torres Vedras Sul.Em alternativa, siga pela N8 por Venda do Pinheiro e Turcifal até Torres Vedras.
- Porto a Torres Vedras: pela A1 sair na direção de Aveiro, convergir com a A25, continuar na A17 na direção de Leiria. Tomar a A8 até à saída 8 – Torres Vedras Norte.Em alternativa pode tomar a N1 por Leiria até Rio Maior. De Rio Maior tome o IC2 para Alcoentre e a N115 até Torres Vedras.
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🏠 Onde ficar:
Em Torres Vedras existem inúmeras opções económicas de alojamentos, consoante o número de dias que irá ficar no concelho da região Oeste. O Dolce Campo Real perto do Turcifal, parece-nos uma boa opção para explorar a Rota Histórica das Linhas de Torres. Trata-se de uma uma excelente opção para quem queira ter acesso rápido a todas as actividades relacionadas com o turismo de natureza e histórico-cultural, onde está perfeitamente integrado na área protegida da Serra da Archeira e do Socorro e da cidade de Torres Vedras.Na minha opinião, os seus pontos fortes são a localização, o campo de golfe, a piscina, uma área para crianças e as ofertas de atividades de tempos livres.
🍜 Onde comer:
Porque não saborear uma ceia oitocentista, a pós uma visita ao património das Linhas de Torres Vedras, o visitante poderá ter uma experiência gastronómica: uma sopa de canja e um Bife Wellington* com Chips de Batata Doce e Espargos. Trata-se de um prato Oitocentista alusivo à época das Invasões Francesas. E para sobremesa uma deliciosa “Barriguinha de Freira”. E não se esqueça de acompanhar com um belo tinto DOC de Torres Vedras (CVRLisboa).
🔗Para mais informações:
Aqui poderá encontrar, por exemplo, extensa documentação e dicas sobre o património material e imaterial nos seguintes links:
“Os percursos da Rota Histórica das Linhas de Torres são temáticos e refletem cada um dos aspetos mais marcantes do território onde estão inseridos. Podem ser visitados em parte ou no seu todo, deixando ao viajante a liberdade de construir a sua própria visita.”, lê-se no sitio web da Rota Histórica das Linhas de Torres (RHLT)
A Rota Histórica das Linhas de Torres (RHLT) oferece informação atualizada para conhecer os locais e percursos dos inúmeros fortes e redutos militares dos concelhos (Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira) que integram esta rota histórico-militar. Poderá informar-se junto dos vários Centros de Interpretação das Linhas de Torres (CILT) de cada município ou descarregar o mapa e o guia da Rota Histórica das Linhas de Torres. Se for um leitor mais exigente, deixo-lhe uma sugestão de leitura de uma publicação de referência, a Revista INVADE, sobre o que melhor há para ver e fazer na Rota Histórica das Linhas de Torres. Recomendo, também, a consulta do sitio digital do Turismo Centro de Portugal, visto que permite descarregar mapas e um conjunto de informações sobre os transportes públicos, rotas turísticas, património edificado e gastronomia associado à região Oeste de Portugal.
A Batalha de Torres Vedras – 22 de dezembro de 1846 in Revista Militar N.º2459, Dezembro de 2006 [em linha]. Lisboa: CMG Armando Dias Correia, 1849-2020.[consult. 2020-05-26 11:58:58]. Disponível na Internet: https://www.revistamilitar.pt/artigo/170#
A Ferro e Fogo (Invasões Napoleónicas) in RTP Arquivos [em linha]. Lisboa: RTP – Rádiotelevisão portuguesa, 2015-2020. [consult. 2020-05-26 21:12:46].Disponível na Internet: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/a-ferro-e-fogo-invasoes-napoleonicas/
Batalha de Torres Vedras in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2020. [consult. 2020-05-26 19:28:50]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$batalha-de-torres-vedras
Forte de São Vicente / Obra Grande de São Vicente – SIPA: Sistema Informação para o Património Arquitectónico. [Em linha]. [Consultado em 30 Dez. 2014]. Disponível na internet URL: <http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6346 >
NORRIS, A. H., BREMNER, R. W. – As Linhas de Torres Vedras, as três primeiras linhas e as fortificações ao sul do Tejo. Torres Vedras: Câmara Municipal de Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, British Historical Society de Portugal, outubro 2001.
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💻 Texto: Rafael Oliveira 📷 Fotografia: Oliraf Fotografia 🌎
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