📌 À descoberta do Regimento de Artilharia de Costa: a 7ªBataria de Outão…

O objecto de estudo/documental que vos trago aqui são as ruínas da antiga unidade militar do Regimento de Artilharia de Costa (RAC), designadamente, a 7ªBataria de Outão.

Quantas vezes passamos por uma determinada ruína, sem que o nosso olhar se detenha para as admirar? Que Histórias e segredos guardam estes locais? Como sabem sempre tive um gosto pela História, pela preservação da memória e o gosto pela aventura, adquirido ao longo de uma década de Escutismo. Ora, a Fotografia deu-me a possibilidade de conciliar a minha paixão pessoal pela História, através do registo do património edificado em Portugal, seja ele em bom estado de conservação ou em ruínas.

BatariaOutão-1-13

Foi a minha primeira incursão fotográfica numa Bataria do antigo, e extinto, Regimento de Artilharia de Costa (RAC) do Exército Português. Já conhecia a existências de diversos complexos do RAC pela Internet e pelos meios audiovisuais, tais como, o projecto Ruin’Arte, Lugares Esquecidos, Monumentos (SIPA) e do programa Abandonados da SIC. Todavia, desconhecia a sua localização precisa na Serra da Arrábida. Como fiquei com vontade de conhecer e fotografar este local, e aproveitando uma Sessão Fotográfica na Arrábida, decidi meter a mochila e o material às costas e partir para a aventura.

Vista exterior do complexo militar com as 3 peças Vickers de 152 mm
Vista exterior do complexo militar com as 3 peças Vickers de 152 mm

O Regimento de Artilharia de Costa (RAC) foi criada pelas Forças Armadas Portuguesas, após a 2ªGuerra Mundial, através do Plano luso-britânico – o Plano Barron (1939) -, onde o objectivo era criar uma força especializada em impedir o desembarque de uma força convencional apoiadas por unidades navais, nas imediações dos estuários do Tejo e do Sado. As construções decorreram entre 1944 e 1958, estando operacionais corria o ano 1958. Estiveram ao serviço da Nação, sensivelmente, cinquenta anos. Era constituído por um posto de comando, 8 Batarias com 36 peças de artilharia (Krupp e Vickers) de diversos calibres (152mm e 234mm) com alcance considerável para a época.

BatariaOutão-1-21
Para a construção da 7.ª Bataria, localizada a meio da encosta da serra, próximo da Secil, foi aproveitado o antigo Forte do Outão (Século XVII)

A 7ª Bataria de Outão, situada na Serra da Arrábida, Outão Setúbal, pertencia ao Grupo Sul ( 5ª Bataria da Raposeira, 6ª da Bataria Fonte da Telha e 8ªBataria de Albarquel) do Regimento de Artilharia de Costa (RAC) cujo objectivo era defender a entrada da foz do Porto de Setúbal, em conjunto com os outros redutos.  A construção desta unidade militar de defesa da costa sadina iniciou-se entre 1944 e ficou operacional em 1954. Era composta por 3 baterias de Vickers 152mm, de fabrico inglês, de médio alcance (10 – 20 km), pelo antigo forte Velho de Outão e os aquartelamentos. Importa salientar que as mesmas nunca participaram em situações de conflito, sendo utilizadas, apenas, para exercícios de fogo real.

Peça Vickers 152mm
Bateria Vickers 152mm – 7ªBataria do Regimento de Artilharia de Costa (Outão)
BatariaOutão-1-48
A RAC de Outão estava equipada com três canhões Vickers, de 152 mm, de médio alcance, ou seja, entre 10 a 20 quilómetros de precisão
Hoje, os canhões estão calados pela paz e em decomposição pelo tempo. Na memória persistem as estruturas e a vista deslumbrante que se tem das baterias para a barra do Sado.
Hoje, os canhões estão calados pela paz e em decomposição pelo tempo. Na memória persistem as estruturas e a vista deslumbrante que se tem das baterias para a barra do Sado.

Em virtude, das mudanças tecnológicas introduzidas na forma de fazer a guerra nos finais do Século XX – misseis ar-terra, aviões a jacto e artilharia portátil-, a existência do RAC tornou-se obsoleta (alvo estático e vulnerável) e, como consequência, foi desativado em 1998 e, finalmente, extinto corria o ano de 2001. Chegava, assim, o projecto delineado pelo General Barrow durante a IIªGuerra Mundial e, também, o fim da História da Artilharia de Costa em Portugal iniciada no final do Século XIV.

BatariaOutão-1-56
Forte de Santiago do Outão

Actualmente, apesar de ser um local com estruturas bélicas impressionantes e com vistas deslumbrantes para o estuário do Sado, os «canhões da memória» travam uma espécie de última guerra contra a destruição, contra o esquecimento e contra o tempo. Ao longo do ano de 2015, irei realizar uma segunda incursão pelas ruínas desta unidade militar, onde irei captar o interior dos espaços subterrâneos que fazem deste local, um património impar. Também irei aproveitar para visitar a 8ªBataria de Albarquel (Setúbal) e a 5ªBataria da Raposeira e da Alpena (Almada).

Para mais informações:

EMERECIANO, Jaime – A Artilharia na Defesa de Costa em Portugal. Lisboa: Academia Militar, Dissertação Mestrado em Ciências Militares, especialidade de Artilharia, 2011

Disponível na internet URL: http://comum.rcaap.pt/handle/123456789/7247

Bateria do Outão e Forte Velho do Outão – SIPA: Sistema Informação para o Património Arquitectónico. [Em linha]. [Consultado em 30 Dez. 2014]. Disponível na  internet URL: < http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=25039

Nota importante [👤]

As presentes informações não têm natureza vinculativa, funcionam apenas como indicações, dicas e conselhos, e são susceptíveis de alteração a qualquer momento. O Blogue OLIRAF não poderá ser responsabilizado pelos danos ou prejuízos em pessoas e/ou bens daí advenientes. Se quiser partilhar ou divulgar as minhas fotografias, poderá fazê-lo desde que mencione os direitos morais e de autor das mesmas.

linhagraficaALL-oliraf-03💻  Texto: Rafael Oliveira 🌎 Fotografia: Oliraf Fotografia 📷

Follow me: @oliraffotografia on Instagram | Oliraf Fotografia on Facebook

Fotografia✈︎Viagens✈︎Portugal © OLIRAF (2014)

📩 Contact: oliraf89@gmail.com 

25 thoughts on “📌 À descoberta do Regimento de Artilharia de Costa: a 7ªBataria de Outão…

  1. Eu cumpri o serviço militar aqui, na 7ª Bataria do Outão, entre Abril de 1990 e Janeiro de 1991. Local fantástico e de uma beleza ímpar. É com enorme tristeza que verfico o estado de abandono e degradação das instalações. Infelizmente é isto que acontece num país falido e sem memória…

    1. Agradeço as suas palavras, caro Armando Pereira. De facto, é um sitio brutal que deveria ter mais respeito para aqueles que o visitam.
      Julgo que terá histórias fantásticas sobre os «sons» destas Baterias.
      Grato pela sua atenção.

  2. Descobri este local há muito pouco tempo na serra da Arrábida. Passeio muitas vezes por lá e nunca me tinha saltado à vista! Pois desta vez saltou e fui explorar. Entrei por um portão “traseiro” e nem sabia para onde ia, ficando a perceber que eram instalações militares assim que vi as grandes armas apontadas ao mar.

    Tirei uma boas fotos por lá pois adoro locais abandonados e sendo na Serra da Arrábida a vista neste local é privilegiada!

    Excelente o seu trabalho, muitos parabéns!

  3. Fui militar do RAC em 89/90, quem conheceu estes sítios e os vê agora, sente um misto de revolta e de traição, é degradante que o Governo Português não tenha o mínimo de respeito pelos militares que aqui cumpriram o seu serviço em prol da Pátria!
    Mas esta não é a única Bateria do RAC que está num local deslumbrante, todas elas se situavam em locais de beleza irrepreensível e só quem teve o prazer e a honra de lá ser militar pode saber o que foi o RAC!

    1. Eu tambem tive na7ª BTR em 91/92 o estado que a nossa bateria está não há direito tanto dinheiro que o estado gasta mal gasto e deixa umas instalações destas chegarem a estes pontos

  4. Queria ainda dizer que o RAC também englobava duas Baterias com 3 peças cada uma de 385 milímetros as maiores peças de Artilharia jamais instaladas em Portugal, essas peças disparavam projecteis maciços de várias centenas de quilos e tinham capacidade útil de tiro de 50 kilometros, ainda podem ser vistos projecteis dessa envergadura naquele que até 1998 foi o quartel de Comando em Oeiras, essas peças estavam instaladas na margem sul do Tejo nas localidades de Sobralinho (Setúbal) e Santo Antão do Tojal também em Setúbal, essas duas Baterias foram as primeiras a ser desactivadas ainda decorria a Década de 60. O RAC directa ou indirectamente chegou a ter 52 unidades militares entre quartéis (Baterias) e fortes porque do RAC também faziam parte quase todos os fortes da zona de Lisboa e Setúbal, entre eles o forte da Trafaria, o de Albarquel e o Forte de São Julião da Barra em Oeiras que hoje é a casa oficial do Ministro da Defesa.
    Eu sou um dos poucos Portugueses que se pode gabar de ter conhecido o Forte de São Julião da Barra no seu esplendor e conhecer-lhe todos os recantos.
    Aqui podem ver uma peça idêntica às que o RAC tinha e poderão ter uma ideia das “bestas” que isto era a disparar. Neste caso trata-se de um exercício de treino levado a cabo pelas Artilharia de Costa Espanhola, que em tudo era igual à nossa do RAC, a única diferença é que neste vídeo a cadencia de disparo é muito baixa por se tratar de treino.

    1. Julgo que as Baterias de 385 mm eram de origem alemã (Krupp) e serviam para proteger o Porto de Setúbal durante a 1ªGuerra Mundial. Vou deixar-lhe o meu facebook,onde poderá encontrar mais fotos sobre as Batarias da Trafaria, Parede e Outão. Irei brevemente publicar aqui. Agradeço o seu testemunho pessoal.

      O objecto de estudo/documental que vos trago aqui são as ruínas do extinto Regimento de Artilharia de Costa (RAC),…

      Posted by Oliraf Fotografia on Sunday, February 22, 2015

  5. Fiz lá o meu serviço militar em1994 fico muito triste por ver aquele quartel assim. Gostaria de rever todos os meus colegas.

  6. Gostei dos comentários que li …sou de Setúbal e não consigo compreender como se pode deixar uma maravilha destas ao completo abandono ,já a visitei várias vezes e fico muito triste,……

    1. Cara Manuela Matos,

      Agradeço o seu feedback. Em 2017, iremos fazer uma nova incursão pelas ruínas do RAC. Esteja Atenta.
      Em relação à sua pergunta, em breve, este paradigma irá mudar. A Associação de Amigos da Artilharia de Costa tem feito um esforço enorme para a preservação deste legado do património histórico-militar.

      Com os melhores cumprimentos,

      OLIRAF

  7. De facto é lamentável que tudo o que não envolva dinheiro ao bolso por parte dos nossos governantes, dê nisto. Não querendo o Governo manter estas instalações, ao menos abria um concurso para um espaço cultural e de lazer, com uma vista que deixaria o chamado turismo de Excelência de Lisboa num chinelo.

  8. Hoje dia 22 de Dezembro de 2o19,, fui levado pelo meu filho e netos a conhecer estas instalações militares e como um ex.com serviço militar nas Colónias ex-Portuguesas, fiquei maravilhado com tudo aquilo que me foi dado ver,pois sempre gostei de tudo que faz parte da História do nosso Planeta .Além de imaginar como seria aquele local e naquele tempo, em plena atividade,fiquei sinceramente chocado com o abandono e a degradação que me foi dado ver..É pena que o turismo em Portugal , seja só no Porto, Lisboa e Algarve, quando temos no nosso País tanta coisa com interesse para mostrar, não só para quem nos visita, vindo de outros Países mas das nossas mesmas gentes. É PENA..

  9. Ao ver no Google praia de Moledo, fui clicando e numa foto do e-konomista “as 7 melhores praias da Arrábida” e entrei… Já as conheço desde finais dos 70 mas vi foto do topo da serra com Tróia em frente e lembrei… Fui ao Google novamente, escrevi “7 BTA RAC Arrábida” e apareceu isto.. No YouTube já tinha visto… Fui para aqui, vindo de Oeiras, em Setembro de 1984…Chegámos quase de noite, porta de armas com os da peluda de fitas cruzadas no tronco e lenço na testa a brandir as G3… A partir daqui um gajo adapta-se… A carne à jardineira fazia juz ao nome, era verde… Os gamanços do Sgt às Sextas.. Comida.. Fins de semana lá metido naquele desterro, noites no mato ( ainda bem), campeonato de tiro aos ratos do refeitório a atirar os copos de metal.. A sobremesa eram três bagos de uva debaixo dele.. Pequeno almoço um quarto de pão.. Um gajo quis gamar e dei com força nos nós da mão.. Boas semanas de campo… Batia a serra toda… Descer a correr marcor até à Figueirinha, entrar dentro do mar até ao pescoço com a arma, sair, rastejar na areia, voltar a ir.. E assim sucessivamente… Subir a ravina só à força de mão.. Um paralisou a meio… Uma noite as FP-25 tentaram assalto ao paiol do BSS de Setúbal, quartel grande e bem guardado, fomos avisados, porque a 7 é pequena, muito exposta e a guarnição eram três pelotões.. Um, o meu, saiu para perímetro exterior.. Houve confronto pois saíram do carro, dispersaram e disparei… Outros também.. Nunca ficar no mesmo sítio… Entraram num Datsun e se polícia e GNR quisessem apanhavam.. Só há dois vias de acesso que bifurca numa terceira… Tiveram medo e nós não tínhamos apoio… Só um jipe… Eram criminosos cães raivosos… Nos fds era cortar batatas na boa na cozinha e ver aquela vista fabulosa.. Nós dias normais era o relaxamento absoluto de fim de tarde, quando lá estava, sentado numa pedra a ver a Arrábida, a Foz, o Sado, Tróia e Setúbal ao longe… Estava também longe de tudo… E a discoteca Seagull lá em baixo… Só havia um telefone fixo com moedas… Foram dois meses intensos… Passados quinze dias de entrar estava selvagem… Comportamento… Notava e chamavam atenção quando ia a casa quando o rei fazia anos.. Depois fui para a Carregueira… Etc… Lembro – me da miséria que havia em Setúbal… A Berliet parava no terreno baldio de terra à volta da Igreja antiga, o resto para a estação era a pé… Tudo a pedir.. A nós, putos sem pré…Só voltei a ir à Arrábida 25 anos depois, lá para 2008 ou 2009, em Outubro… Ironia das ironias.. Passeio organizado por amigo de amigo meu lá dos amigos da serra… Vem tudo à memória, até o pico das três cruzes… Cheguei a dormir na Capela escavada na pedra.. Por causa da chuva… Mas também já tinha apanhado muita… Os canhões vi disparar uma vez… Canhões de Navarrone… Tudo estremecia… Na altura era uma Corveta que levava a reboque um alvo flutuante… Era espectáculo lá para os Almirantes etc.. Recruta, principalmente com a especialidade de Caçador, na Carregueira, mas na 7 também ouvi..Pelos Sgts Chefes Que Angola iria ser nossa outra vez.. Lá o Capitãozeco era os russos, Pacto de Varsóvia, NATO… Acreditava mais nos Sargentos… Andaram lá.. Vista magnífica, fantástica, ímpar e fabulosa (li há anos que tinha sido comprado para hotel de charme de seis estrelas..) mas para esquecer.. Ou não.. Acho que já está digerido… Mas ver como está e o seu estado de abandono prefiro guardar as recordações…

  10. TAMBEM FEZ O MEU SERVICO MILITAR NA 7EME BATARIA ENTRE ABRIL E DEZEMBRO DE 1990 E DAME VONTADE DE CHORAR QUANDO VEIJO ESSE LINDO SITIO A ONDE PASSEI MAUS E BONS MOMENTOS AO ABANDONO TANTO DINHEIRO SE DA PARA COISAS SEM JEITO E PARA RESTAURAR O NOSSO PATRIMONIO NAO A OBRIGADO POR ESSAS LINDAS FOTOS. AO MESMO TEMPO SE OUVER ALGUM CAMARADA DESSE TEMPO QUE LEIA ISTO SE PODER ENTRAR EM CONTACTO CONMIGO AGRADECIA NOMES DE MEMORIA O GONCALVES ALENTEJANO, O CABO SANTOS, O ALMEIDA DE VALENCA O HOMESINHO ,O OLIVEIRA DE VILA NOVA DE CERVEIRA, O LIMA DE VIANA,O AMORIM DOS ARCOS DE VALDEVEZ APELIDO MIMOSA, O ERNIAS DA PONTE DA BARCA OU SEIJA O COSTA ETC.SE LEREM ISTO ENTREM EM CONTACTO CONMIGO POR FAVOR .FERNANDO ROCHA MEU MAIL .darochafernando@hotmail.com

Deixe uma Resposta para Manuela Matos Cancelar resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s